Na opinião de, Tiago Fonseca*

>> quinta-feira, 18 de março de 2010

Psicologia da Política – O que é o espaço ”Psicologia da Política”?

Agradecendo o convite feito pelo Tiago Mendonça, este será um espaço com vários textos sobre vários temas onde a psicologia, na aplicação da sua definição lata de compreensão de uma situação e previsão da consequência respectiva, pode explicar o que se passa na política, cultura e na sociedade portuguesa, sempre atenta aos pormenores que formam esses temas.



Contudo, na psicologia, como na política, é preciso ter em conta que teorias não faltam sendo que cada indivíduo terá a sua. A apresentada neste espaço é a minha visão, a minha teoria.



A psicologia procura explica um grande conjunto de questões e todas as teorias usadas nesse sentido têm uma finalidade parecida: explicar o “porquê” e o “como” dos acontecimentos, sem nunca deixar de “descortinar” o mesmo nos seus pormenores à luz da sua base, da sua teoria, neste caso, a minha.

Texto 1

A Democracia é um Bem Virtual?


O que é a democracia? No dicionário podemos ler: “Governo em que o povo é soberano, directa ou indirectamente; O povo, em oposição à aristocracia.” (Dicionário on-line Priberam)



A democracia como é entendida, mostra um constructo com vantagens numa sociedade, onde todos participam com a sua opinião, dando a sensação de pertença a uma cultura que nos deixa opinar e que ainda por cima, faz dessa opinião a final, visto que num sufrágio, referendo ou outra votação nacional, o resultado de votos da população ditará o resultado.



Aplicando esta última definição de democracia a umas eleições legislativas, significaria que todos os partidos com pelo menos 1 (um) voto estariam representados na Assembleia da República, onde todos os cidadãos, aí sim, estariam representados. Tal não acontece.



Se fizermos uma retrospectiva, existiram algumas alterações estruturais no nosso país que não foram alvo julgamento da população: Entrada na União Europeia; Alteração para a Moeda Única, EURO; Alteração do Acordo Ortográfico; Aceitação do Tratado de Lisboa; Legalidade do Casamento Homossexual; Esta última bem recente e que ainda suscita polémica.



O governo pode decidir a realização ou não de um referendo, pedindo ou não a participação da população na vida social do seu país, ou seja, o governo pode decidir a aplicação da democracia ou não. Num estado democrático, a democracia não pode ser escolhida pois é um bem adquirido, constantemente presente.



Alterações estruturais na vivência cultural e em sociedade devem ser questionadas à população, mas sem truques de informação, como aconteceu no referendo sobre a Despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez. Neste caso, o estado permitiu o referendo de uma matéria onde a população estaria pouco informada, sujeita a uma chantagem de despenalização para quem não tem recursos para interromper a gravidez de forma legal.



A não informação da população ou, por outro lado, a existência de informação para os assuntos de interesse do governo formam a democracia do país, onde apenas se aplica a definição da mesma quando “dá jeito” ou quando não existem consequências de maior para a vontade do governo, tendo em conta a informação e o discurso prestado à população.



Podemos concluir que a vontade do povo é virtual, dando à população a simples ideia de que, de vez em quando, a sua opinião é necessária, mas apenas quando não faz muita diferença que esta diga o que deseja, que diga o que pensa, em função da sociedade e cultura onde está presente.



A democracia apresenta-se assim como virtual. Uma ideia que temos de poder, de decisão, que nunca chega a ser real, por opção ou definição. Apenas erradamente se chama democracia.

* Tiago Fonseca, é mestrando do 1ºAno de Psicologia Clínica de Psicoterapia Cognitivo-Comportamental e Integrativa, na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. Actualmente, é secretário-geral adjunto da JSD/Moscaviide.

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