Análise ao Perfil do Eleitorado e à Abrangência dos Partidos Políticos em Portugal

>> quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Em primeiro lugar, cumpre esquematizar os vários tipos de eleitores e o enquadramento ideológico de cada tipo, para depois podermos observar a abrangência dos partidos políticos em Portugal. Assim, numa escala de 1 até 9, sendo o 1 o nível mais à esquerda e o 9 o nível mais a direita, considero:

1 – Radical de Esquerda
2 – Esquerda Profunda
3 – Esquerda Moderada
4 – Centro Esquerda
5 – Centro
6 – Centro Direita
7 – Direita Moderada
8 – Direita Profunda
9 – Radical de Direita

Dito isto, antes mesmo de passarmos à análise da abrangência dos partidos, cumpre fazer algumas notas prévias, que explicam algumas das opções tomadas em sede de verificação da abrangência partidária. Assim, tomei em consideração:

• Considera-se apenas para efeitos desta análise os seguintes partidos: MRPP, PCP, BE, PS , PSD, CDS, PNR.

• Na análise dos níveis toma-se em consideração três aspectos : Temas Fracturantes, Politicas Sociais, Intervenção do Estado na Economia.

• A existência de juventudes partidárias, em especial no Partido Socialista e no Partido Social Democrata, que normalmente se posicionam mais à esquerda que os próprios partidos, fazendo deslizar o nível de abrangência desses partidos para alguns pontos mais à esquerda.

• A análise tem como base a pluralidade de opiniões existente em cada partido e a pluralidade programática, assim estamos em presença de uma análise que visa perspectiva a abrangência ideológica, teórica e não a abrangência actual, donde se retira os seguintes considerandos:

1. O Partido Socialista de Sócrates, evidentemente que não penetra no nível 2 (Esquerda Profunda), mas em circunstâncias que veremos a seguir, em termos formais a abrangência do partido permitiria lá chegar.

2. O Bloco de Esquerda, em termos programáticos confina-se ao nível 1, a Esquerda Radical, contudo, se tivéssemos em conta a actualidade e a carga demagógica imprimida pelos seus dirigentes actuais, poderíamos estender a abrangência do BE à Esquerda Profunda.

3. O Partido Nacional Renovador, tem ainda associado à sua acção uma carga de violência, que em termos de actualidade o confina ao nível 9, Direita Radical, mas se observarmos apenas o seu programa eleitoral, poderíamos afirmar que conseguiria ainda abranger parte da Direita Profunda.

Dados estes exemplos passemos à análise partido a partido, verificando nível a nível.

1 – Esquerda Radical

Temas Fracturantes: Intervencionismo zero. Total discricionariedade e autonomia privada no seu ponto mais extremo.

Politicas Sociais – Grande intervenção do estado.

Politica Económica – Uma autêntica cruzada contra a classe média, média-alta e alta. Os mais ricos tem de dar o seu dinheiro aos mais pobres. Ou seja, se um empresário arrisca, o negócio corre-lhe bem e a empresa der lucro, num cenário de crise, por exemplo, não pode incrementar o seu lucro ao despedir trabalhadores, correndo o risco de abrir falência por não tomar medidas correctivas de curto prazo. Em casos extremos, deixa de ter o seu ganha pão para não retirar no imediato o ganha pão a outros. Um altruísmo extremo, que conforme perceberão, leva a que, in casu, a empresa em vez de reduzir o numero de trabalhadores de 50 para 25, e conseguir continuar a laborar existindo dinheiro para empregador e 25 trabalhadores, venha a falir um ano depois.

Este nível é ocupado pelo PCP, BE, MRPP.

2 – Esquerda Profunda

Neste nível situam-se os eleitores que tem grandes ideias de esquerda, posicionando-se numa intervenção quase zero em matéria de relações privadas e temas fracturantes, adeptos de politicas sociais, mas com uma visão da intervenção económica do Estado menos radical.

Neste nível observamos: O PCP, na sua vertente mais renovadora e o Partido Socialista, que por influência da JS (a ala mais à esquerda da JS não é muito diferente do BE) desliza para a Esquerda Profunda.

3 – Esquerda Moderada

É um nível de quase monopólio do Partido Socialista. O PCP e o BE não chegam lá e o PSD ainda não chega, fique à porta. O PS domina esta franja do eleitorado, que em temas fracturantes continua a posicionar-se numa não intervenção embora atribua menos importância ao tema e tem já uma visão mais equilibrada do binómio policias sociais – visão económica.

4 – Centro – Esquerda. Nesta franja do eleitorado o Partido Socialista é o grande campeão. Contudo, o PSD, muito por influência da JSD, já ocupa uma parte deste eleitorado. Maior divisão nos temas fracturantes (muita gente na JSD, defende o casamento homossexual, o aborto, a liberalização das drogas leves), maior proximidade à ideia de justiça de oportunidades e não de justiça de resultados nas politicas sociais, intervencionismo do estado em áreas essenciais apenas. (É um caso paradigmático onde a dinâmica prática permite ao CDS, ainda que de forma residual tocar neste eleitorado, muito embora a sua definição e matriz ideológica o impedisse de sequer vislumbrar este eleitorado).

5 – Centro. Divisão de eleitorado entre PS e PSD, com CDS a cobrir já uma porção deste tipo eleitoral. Aqui, em relação ao nível anterior, existe uma redução do núcleo de áreas onde se compreende a intervenção económica do estado, existe atenção às politicas sociais, e quanto a temas fracturantes existe divisão de opiniões sobre os vários temas.

6 – Centro Direita – Na prática o PS toca neste tipo de eleitorado. Mas em termos teóricos, é o mesmo caso do CDS, não seria de esperar que o PS vislumbrasse esta franja, que seria divida então, pelo PSD e pelo CDS com ascendência para os primeiros. Menor intervenção económica, temas fracturantes a começarem a pender para a regulação estatal. Justiça Social assegurada.

7 – Direita Moderada – PSD e CDS em grande divisão do eleitorado. São dados mais alguns passos no caminho para o estado intervenção zero. Assegura-se as politicas sociais, menos tolerância nos temas fracturantes.

8 – Direita Profunda – O PSD consegue aqui ainda muito eleitorado, mas é a área por excelência do CDS/PP. O PNR, tem uma franja residual deste eleitorado (que na prática desaparece pelo que foi dito na nota prévia). Liberalismo Económico, Politicas Sociais asseguradas em aspectos chave, Temas Fracturantes sempre com respostas mais negativas – Não ao casamento homossexual, não ao aborto, não às drogas leves.

9 – Direita Radical – O CDS tem aqui uma parte do seu eleitorado, pelo carácter mais residual do PNR e pela ideia de voto útil. Mas mesmo em termos ideológicos, a franja mais à direita do CDS assegura parte deste eleitorado, que no entanto se orienta mais para o Partido Nacional Renovador.

Dito isto, chega-se às seguintes conclusões:

• O PS abrange o nível 2,3,4,5 do eleitorado, discutindo-se se penetra ou não no eleitorado do tipo 6 (centro-direita).

• O PSD abrange o nível 4,5,6,7 e 8.

• O CDS, abrange o nível 5,6,7,8 e de forma residual o 9, discutindo-se se consegue tocar no nível 4 ou não.

• O MRPP, fica-se pelo nível 1. O mesmo para o BE (ainda que com a demagogia actual consiga penetrar no eleitorado 2, e na faixa mais à esquerda do eleitorado 3)

• O PCP está no eleitorado 1 e abrange ainda o eleitorado 2.

• O PNR fica-se pelo eleitorado 9, com uma residual extensão ao eleitorado 8.

Ou seja:

O PSD distingue-se do CDS, por não comportar uma vertente mais radical (tipo 9) e por conseguir ir com maior facilidade ao centro-esquerda por efeito da JSD.

O PS, tem menor capacidade que o PSD para ultrapassar o centrão, já que a JS o arrasta para a esquerda profunda onde disputa eleitorado com as forças mais à esquerda.

O PCP é mais abrangente que o BE, mas na actualidade BE consegue estender-se a mais eleitorado com resultados evidenciados nos sucessivos actos eleitorais.

O PNR fica ancorado ao nível 1, muito por causa da conotação violenta que tem, do ponto de vista programático adopta soluções que poderiam cair no nível 2.

Ultimo Ponto – Distribuição do eleitorado pelos vários níveis:

1 – 2,3%
2 – 7%
3 – 11%
4 – 19%
5 – 31%
6 – 17%
7 – 7%
8 – 4%
9 – 1,7%

Assim, estima-se:

Divisão por Partidos – Olhar para a actualidade:
1 – MRPP – 0,4%; PCP – 0,9%; BE – 1%
2 - MRPP – 0,1%; PCP – 3%; BE – 3%; PS – 0,9%
3 – PS – 7,5%; BE – 2,3%; PCP – 1,2%
4 – PS – 14%; PSD – 4,5%; CDS – 0,5%
5 – PS – 17%; PSD – 13%; CDS – 1%
6 – PS – 3%; PSD – 10%; CDS – 4%
7 – PS – 0,2%; PSD – 4%; CDS – 2,8%
8 – PSD – 1,8%; CDS – 2,2%
9 – PNR – 0,3%; PSD – 0,1%; CDS – 1,3%

Resultados Finais:



PS – 42,4%
PSD – 33,4%
CDS – 11,8%
BE – 6,3%
PCP – 5,1%
MRPP – 0,5%
PNR – 0,3%

Diferenças para os resultados das ultimas eleições:

O PS teve menos cerca de 6%, o PSD menos 4%, o CDS, menos 1%, o BE mais 3%, o PCP, mais 2%, MRPP e PNR com votações idênticas.

Por partes: A votação do CDS é inferior em 1% porque aqui não foram contabilizados votos em partidos como o PPM, MMS e MEP que penso que retiram parte do eleitorado ao CDS.

O PSD teve menos 4% e o PS menos 6%, porque os abstencionistas são maioritariamente pessoas do centro, as pessoas mais ao extremo e à profundidade do espectro politico são mais assíduas. Por outro lado, quem está mais perto da vitória, ou quem as pessoas acham que “já ganhou” tem tendência a ter uma menor capitalização de votos.

Ultima nota – só para o PSD:

O PSD se quiser inverter isto tem dois caminhos: Ou olha para a direita, e tenta ganhar o eleitorado 6,7 e 8, onde tem apenas 15,8% em 28% possíveis (o que é manifestamente pouco) ou vai à esquerda, combater o eleitorado quatro com o PS, ganhando votos directamente. Parece me mais fácil o crescimento pela direita. Mas o partido tem que abandonar a deriva ideológica e estratégica. E tem que adoptar um rumo. Deve ser isso, precisamente isso e nada mais do que isso que deve estar em cima da mesa nas próximas directas e no próximo Congresso Nacional.

0 comentários: