Na opinião de Ana Suwa
>> quarta-feira, 8 de julho de 2009
Hoje talvez tenha sido o dia mais complicado desde que ouvimos falar da Gripe A, pelo menos, no que ao nosso país diz respeito. Perante o clima de alguma alarmismo, pedi o especial favor à Ana Suwa, estudante de enfermagem na Universidade Católica Portuguesa, de nos dar algumas informações sobre a temática, até porque, julgo que a calma ajuda sempre nestas situações. Um obrigado a esta estudante de enfermagem.
Tive a oportunidade de no Sábado passado assistir, na Universidade Católica Portuguesa – Escola Superior Politécnica de Saúde, a uma conferência sobre esta realidade de cariz mundial que é a epidemia pelo vírus da Gripe A.
Foi declarado pela Organização Mundial de Saúde no dia 11 de Junho de 2009 a passagem da gripe suína para o nível máximo (6) de alerta pandémico. Ora, é preciso antes de mais dismistificar este “nível máximo”, o qual é referido. A passagem à fase 6 da pandemia deve-se à facilidade e velocidade de propagação do vírus a nível mundial e não à sua gravidade clínica. Esta gripe iniciada no México e Estados Unidos da América propagou-se a quatro Regiões da Organização Mundial da Saúde, sendo acompanhada a par e passo em Portugal pela Direcção Geral da Saúde em estreita ligação com a Organização Mundial de Saúde e o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças.
Este vírus é altamente transmíssivel e embora ainda esteja a ser estudado, já há inúmeras informações relativas a ele. Sabe-se que esta gripe é provocada por uma nova estirpe de vírus da gripe que contém genes das variantes humana, aviária e suína, numa combinação que nunca antes tinha sido observada. Ao contrário de outras gripes existentes, como a gripe das aves e a gripe suína, em que a transmissão do vírus entre espécies era rara, o novo vírus da Gripe A (H1N1) transmite-se de pessoa para pessoa. E daqui advém o rápido aumento do número de casos e o surgimento duma pandemia.
A gripe A propaga-se entre pessoas por via respiratória, exactamente da mesma forma como a gripe sazonal se propaga:
• Através do contacto directo com gotículas que advêm da tosse ou espirro de uma pessoa que está infectada;
• O contacto directo com uma pessoa infectada a menos de 1 metro de distância;
• Indirectamente, através das gotículas ou das secreções do nariz e da garganta que sujam as mãos e superfícies de contacto, que, em seguida, são tocadas por outras pessoas que as levam à sua própria boca ou nariz.
Segundo a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (AESA) e Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, este vírus não é transmitido pela ingestão de carne de porco ou pelos seus produtos derivados. Independentemente disto, devem ser mantidas as boas práticas de segurança alimentar, não comendo carne crua de forma a evitar possíveis riscos de doenças de origem alimentar. São sempre recomendadas as práticas adequadas de higiene, que determinam a prática da lavagem das mãos antes de cozinhar, a lavagem adequada de todas as superfícies e equipamentos da cozinha com detergente depois de manusear carne crua. A carne de porco deve ser cozinhada, até atingir uma temperatura interna de 70ºC, temperatura adequada para eliminar vírus e bactérias.
Os sintomas, também eles, são muito semelhantes aos da gripe comum, aos da gripe sazonal:
• Febre (acima de 38ºC);
• Sintomas respiratórios, como tosse ou rinorreia (secreções nasais);
• Dor de garganta;
• Dores musculares;
• Dores de cabeça;
• Arrepios;
• Fadiga;
• Vómitos ou diarreia (não são típicos de gripe, mas foram relatados por alguns dos recentes casos da Gripe A).
É de referir que as mortes verificadas se devem a complicações provenientes desta gripe e que podem incluir a exacerbação de doenças já existentes ou problemas respiratórios (pneumonias graves, bronquites), ou não respiratórios (convulsões febris, encefalopatias, miocardites, entre outras). O risco de ocorrência de complicações, hospitalização ou morte, em resultado da gripe, é maior nos idosos (com mais de 65 anos), nas crianças pequenas, nas grávidas e doentes crónicos.
Até agora, a maioria dos casos de Gripe A (H1N1) são leves e, provavelmente, a maioria dos doentes recuperam por si mesmos. As evidências actuais sugerem que o vírus influenza A (H1N1) é susceptível ao tratamento com oseltamivir (Tamiflu®) e o zanamivir, (Relenza®), mas resistente aos antivirais mais antigos. Os antivirais podem aliviar os sintomas e diminuir o curso da doença. Foi referido que em Portugal a quantidade de antivirais existentes, como medida profilática, apenas cobre 25% da população, o que não deixa de ser intrigante. Apesar do número de casos no nosso país ainda ser minoritário, estima-se que em Outubro o número de casos aumente consideravelmente.
A vacina para a Gripe A (H1N1) está em desenvolvimento e revela-se de facto importante para a imunização da população, de modo a que a transmissão do vírus seja travado. Devido ao facto de muitas pessoas, senão a maioria, não terem imunidade ao vírus, a sua transmissão torna-se de fácil propagação.
A realidade nacional está, de acordo com o Ministério da Saúde, ainda longe de uma situação de pandemia. O padrão epidemiológico em Portugal é diferente do de Espanha, Estados Unidos ou México, pois a maioria dos casos que surgem são importados, embora, neste momento, já existam casos de transmissão secundária do vírus. A mais recente notícia reporta para 4 crianças infectadas num infantário após terem estado em contacto com um bebé de 18 meses vindo de férias do México. Por este exemplo, revela-se fundamental que todas as pessoas conheçam as medidas preventivas a tomar para que casos como este não venham a acontecer.
Neste momento, Portugal encontra-se ainda em fase de contenção, ao contrário do que acontece no Reino Unido que se encontra já em fase de mitigação, ou fase de “tratamento”, devido ao número incontrolado de infectados. A principal finalidade do Plano de Contingência Nacional é minimizar o impacte da pandemia, sobretudo no que respeita à letalidade e à disfunção social. Os efeitos na sociedade podem ser mais graves do que na própria saúde, com consequências no funcionamento de todos os sectores e actividades sociais, incluindo os considerados imprescindíveis à satisfação das necessidades básicas. Neste sentido, o Ministério da Saúde mantém as medidas de prevenção já tomadas, que têm como objectivo a imediata localização e contenção dos casos, recomendando também a toda a comunidade - famílias, escolas, empresas, etc. - que colabore com comportamentos que dificultem a transmissão do vírus.
As recomendações mantêm-se inalteradas: perante sintomas sugestivos de gripe, de contacto com doentes confirmados e/ou deslocação a áreas afectadas, os cidadãos devem contactar a Linha Saúde 24 (808 24 24 24) e seguir as recomendações feitas pelos profissionais de saúde.
4 comentários:
Errata: onde se lê "dismistificar", leia-se "desmistificar"
Olá!
Gostaria de dizer que gostei imenso deste artigo. Numa altura como esta, faz todo o sentido elucidar um pouco mais a população.
Tive oportunidade de assistir à mesma conferência que a Ana e este artigo comporta toda a informaçao que é pertinente divulgar, numa forma simples e acessivel a todos, por isso devo felicitar a Ana por este trabalho .
O meu bem haja por esta iniciativa!
Rita,
Foi precisamente essa a ideia que tive. Numa altura de maior alarmismo possibilitar o acesso a alguma informação que, dentro dos possíveis, tranquilize as pessoas.
O mérito do post vai direitinho para a Ana, que muito bem compilou toda a informação e prestou aqui um belo serviço público aos leitores do Laranja Choque.
Rita,
Muito obrigada pela visita e pelas simpáticas palavras proferidas em alusão ao texto.
Apreciei bastante a conferência e, pelo que me pareceu, tu também.
O que falta à população é informação e conselhos claros relativos a esta nova gripe que tem alarmado muita gente. É importante que nós, futuros profissionais de saúde, tenhamos sempre em vista isto mesmo, informar. Quer seja nas instituições de saúde, em casa ou na nossa rede social. Se todas as pessoas soubessem um bocadinho mais sobre a Gripe A e o que fazer perante a mesma, não existia tanto alarmismo e lidariam naturalmente com isto.
Porventura, também contam os infectados com a gripe sazonal? Não tenho dado por isso!
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