Traição

>> segunda-feira, 13 de abril de 2009

Qual é a grande diferença entre uma pessoa mentir ou uma pessoa trair?

Partindo desta pergunta, facilmente chegamos a um conjunto de conclusões. Uma mentira, é banal. Exemplificando: Se alguém, por exemplo, um qualquer dirigente de uma juventude partidária promete determinada situação e depois mente de forma escabrosa, é uma mentira. Algo que nos faz ficar com uma péssima opinião sobre a pessoa. Nos faz não mais confiar e, em limite, nos faz ficar mais cautelosos num conjunto de situações. Mas não é uma traição.

Trair implica que a pessoa que o faz assuma um lugar e uma preponderância na nossa vida brutal. Significa mentir e fazer perder a confiança, claro. Mas é mais do que isso. É a falência de um modelo de vida. Poucas pessoas nos podem trair. Apenas aquelas que mais amamos. Aquelas que mais gostamos e em que mais nos revemos, aquelas que ocupam um papel mais importante na nossa vida. Apenas essas nos podem magoar de forma tão dolorosa que parece que não aguentamos mais. Apenas essas têm o poder de nos trair. De matar parte de nós.




Em época pascal, o renascimento está em voga. E é importante transmitir uma mensagem de esperança: Também parte da pessoa que é traída morre. Mas, creio, não é uma morte absoluta. Existe ainda margem para renascer. Poderá não ser em 3 dias ou em 3 semanas. Tão pouco em 3 meses ou 3 anos. Mas o renascimento chega. E acredito piamente, que as pessoas ficam ainda mais fortes.

Fica-se na lama. Atropelado por um camião ou espancado por 10 pessoas. Parece que o sofrimento é tanto que não se resiste. Mas creio que quando se renasce atinge-se um grau muito superior de força. E é essa força que tem que fazer com que não culpemos os outros pela falta de escrúpulos de alguém. Não podemos desconfiar de tudo e de todos. Não podemos colocar em causa todas as amizades, todas as relações. Não podemos pensar que daqui para a frente seremos sempre traídos.

Uma traição não implica uma mentira. Pode implicar 10 ou 12 mentiras. Pode implicar o conhecimento dessa acção, aos bocadinhos, em fracções de tempo, mais ou menos dilatadas. E não se pense que é o acto em si. O problema, aliás, o problema maior não será ver a “mulher na cama com outro”. O problema maior é que se alguém se tornou tão importante para nós que se tornou nossa mulher e depois é capaz de nos desiludir de forma tão gritante, significa o desabar de um exemplo. A falência do tal modelo de vida.



Rapidamente o ódio deve dar lugar à compaixão. Esquecer nunca, perdoar imediatamente. Quem somos nós para julgar os outros? O caminho é perdoar. Quando esse luto é feito, e conseguimos perdoar, rapidamente passa a ser indiferente. A pessoa que o faz passa a ser mais um ser vivo, como qualquer outro, que merece o nosso respeito enquanto tal.

E se é muito mais difícil quando a “coisa” assume contornos escabroso a roçar o pornográfico, no sentido de custar muito mais, também é mais fácil de não relevar. Há realidades a que apenas se pode atribuir problemas mentais graves. Um total desvio dos quadros mentais mínimos para a vivência em sociedade. A racionalidade que é característica inerente e que nos distingue dos outros animais já não existe.



Nestes casos o que fica é um enorme sentimento de pena. É o traidor ou a traidora que se estraga. Que terá dificuldades em viver com isso o resto dos seus dias. Que não mais poderá ser apontado como um exemplo. Como um amigo exemplar, uma namorada exemplar. É talvez essa pessoa que perca uma segunda família, ou um grupo de amigos comuns. Às vezes até projectos importantes, vão à vida. Uma vida fantástica, em poucos minutos, ainda que com muito prazer, dão lugar a um vazio enorme.

O traído, fica mais cauteloso, desconfiado. Talvez. Vive horas e dias de enorme angustia, revolta, indignação. Não a indignação que provêm da comparação absurda de características, físicas, por exemplo. Mas a indignação consigo próprio por ter confiado tão cegamente, tão apaixonadamente, em determinada pessoa.

Uma palavra para o traidor: deve continuar a sua vida, errar cada vez menos, tornar-se uma pessoa melhor. Uma pessoa que menos vezes cometa esses erros. Mesmo nos casos de “one chance, one shoot”, ou, “two chances, two shoots” a pessoa deve tentar melhorar. Talvez precise de ajuda ou acompanhamento. É muito mais grave ter uma oportunidade de pecar e pecar, do que ter 50 e pecar 10. Ai reside uma grande diferença.

Por ultimo, volto ao que disse há uns dias. É preciso ao longo dos anos, construir uma vida sólida alicerçada no que realmente importa. Deus, Família, Amigos. Se assim for, mais facilmente se supera esses momentos de enorme desilusão, que como alguém me dizia, são momentos que infelizmente acontecem mais vezes do que o deveria acontecer.

Como todos os textos que aqui faço são textos de índole abstracta. Falo de problemas que reflecti. Não necessariamente experienciados por mim. Contudo, reflicto mais vezes, naquilo que me rodeia. Vou andar um post’s para trás e lembrar-me do que disse sobre aquelas pessoas que enunciei no post amigos. E outras que não enunciei.

E para alguém que esteja a ler este post, o post Amigos não sofre qualquer adenda. As pessoas deixam a sua marca. E uma camisola é sempre bonita, mesmo quando, estupidamente, se decide tingi-la.

Tenho pena. Uma pena enorme. Mais isso que outra coisa.

1 comentários:

Ana 13 de abril de 2009 às 04:18  

Infelizmente a natureza humana por vezes actua sem que queiramos, e só percebemos o real valor do que perdemos quando perdemos efectivamente, queremos aquilo que não podemos ter, e nos arrependemos das atitudes que tomámos.

A tormenta de se ter traído alguém é forte e fica, e mói e tão depressa não desaparece. É um grande castigo e um grande fardo. Merecido? Não sei. Quem sou eu para julgar.

...Não foste tu que erraste, nunca te esqueças disso.