Made in Açores, por Tibério Dinis

>> quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Política Responsável & Pontes Credíveis

Primeiramente, gostaria de uma vez mais dar os parabéns por este espaço de enorme qualidade e potencial. Fazer parte da tão anunciada revolução do Laranja Choque é uma honra e um desafio, em especial, por ter a responsabilidade de partilhar o espaço com um distinto quadro de convidados que o Tiago Mendonça reuniu. Este Made In Açores, não será mais do que um mero exercício de pontes, entre o quotidiano das outrora ilhas adjacentes e a metrópole.

A tão proclamada autonomia nascida das tardes quentes de 74, esfumou-se 34 anos depois, as últimas eleições regionais demonstraram um povo alheio à Autonomia e ao órgão autonómico por excelência, a ALRA. A abstenção atingiu preocupantes 53.24%, na ressaca deste desfasamento entre política e eleitorado, os vários partidos condenaram estes números. Muito se falou no day after, pouco se fez no trimestre seguinte…

Conhecendo a realidade açoriana e o quotidiano da capital das Sete Colinas, os anseios das populações são os mesmos, acredita-se pouco na política e ainda menos nas soluções preconizadas em tempo de campanha. A classe política, também, mostra-se pouco preparada para transmitir o efeito útil do voto. Infelizmente, temo que a abstenção irá subir aqui pelo continente, mas por agora ninguém se preocupa com isso... Em geral, o cidadão comum pouco percebe do que se passa à sua volta e o político ainda menos, note-se que aqui não me refiro ao político do topo das estruturas partidárias – pois nos senhores da televisão acredita-se pouco – refiro-me ao político local, ao Presidente da Junta que resolve os problemas da rua e ao Presidente da Câmara que gere a cidade onde vivemos. Os índices de confiança dos eleitores são os mais elevados no poder local, então, porque é que os partidos não exploram isso a favor de si próprios, mas principalmente a favor da Democracia?

O golpe de Estado na pasmaceira política actual tem que partir do interior dos partidos e fazer-se chegar ao cidadão. São necessárias amplos projectos de formação dos dirigentes políticos locais. As próprias jotas, mais do que locais de iniciação à política de estilo informal, têm que ser escolas de cidadania. A pirâmide política é engraçada de se estudar, confia-se mais na base do que no topo, mas é o topo o mais qualificado, pois as bases produzem cocktails de política saloia com pura desqualificação.

Se os partidos, conseguirem ter uma rede de concelhias e núcleos de freguesia dotados de capital humano, será bem mais fácil construírem-se pontes entre o quotidiano dos cidadãos e a política, entre o político e o eleitor. Os partidos têm quadros capazes de formarem os seus Presidentes de Junta, os seus Deputados Municipais, as suas jotas, então porque não o fazem?

Tudo isto, reflexões de alguém que apesar de não ter filiação partidária, segue atentamente as relações entre eleitores e eleitos, e, o fenómeno dos partidos portugueses. Mas, sobre esses recomendo o primeiro Mel e Paixão do Diogo Agostinho, uma visão completa do que se passa nas estruturas partidárias portuguesas, que sejamos sinceros não é problema único do PSD.
À boa maneira açoriana, Haja Saúde.

Tibério Dinis

2 comentários:

Rogério Paulo Pereira 15 de janeiro de 2009 às 00:30  

Caro Tibério,

Acho que a esta tua pergunta:
"Em geral, o cidadão comum pouco percebe do que se passa à sua volta e o político ainda menos, note-se que aqui não me refiro ao político do topo das estruturas partidárias – pois nos senhores da televisão acredita-se pouco – refiro-me ao político local, ao Presidente da Junta que resolve os problemas da rua e ao Presidente da Câmara que gere a cidade onde vivemos. Os índices de confiança dos eleitores são os mais elevados no poder local, então, porque é que os partidos não exploram isso a favor de si próprios, mas principalmente a favor da Democracia?"

Encontras a resposta também no teu texto:
"A pirâmide política é engraçada de se estudar, confia-se mais na base do que no topo, mas é o topo o mais qualificado, pois as bases produzem cocktails de política saloia com pura desqualificação."

Infelizmente não tenho a mesma fé que tu nos partidos e muito menos no poder local.

Parabéns ao promotor deste blog. Está excelente.

Uma boa noite a ambos

Tiago Mendonça 15 de janeiro de 2009 às 17:40  

Caro Rogério Paulo Pereira,

Agradeco-lhe as palavras, no que a mim me diz respeito.

Obrigado pelo seu comentário, conto com a sua visita assidua a este espaço, que também é seu.

Sobre o tema em questão, muitas vezes ao nivel local, as pessoas votam nas pessoas e não nos partidos. Existe uma maior envolvência. E quanto maior é o municipio, menos participação existe. Pense-se nas ultimas autarquicas em Lisboa.

Enfim. Um tema que dá pano para mangas.