Imatur(idade).

>> quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Maturidade e idade. Uma coisa implica a outra? Não!

Muitas vezes as pessoas têm tendência a ligar a idade e a maturidade. Pois, acho que nada de mais errado existe. Conheço pessoas de 16 ou 17 anos, com uma maturidade fantástica, uma capacidade de trabalho elevadíssima e que produzem reflexões e críticas muitos furos acima do que a generalidade das pessoas. Um bom exemplo, deste último ponto, é a Daniela Major autora do Câmara dos Lordes. Com 16 ou 17 anos, possui uma capacidade de análise acima da média, um conhecimento de matérias muitíssimo abrangente e uma maturidade crítica acima da média.

Conheço, por outro lado, pessoas já muito mais velhas que eu, que revelam uma total imaturidade. Uma falta de exigência consigo próprias gritante. Uma ignorância de bradar aos céus, uma incapacidade de produzir pensamento e opinião sobre temas básicos do domínio comum que me deixa apreensivo. A idade, tem pouco que ver com a maturidade.

Acho que existem muitos outros factores, esses sim, que influem directamente com a maturidade. A educação que é dada pelos pais, é algo fundamental. O binómio liberdade/responsabilidade é fundamental para um crescimento saudável, com a noção das responsabilidades exigidas em cada etapa da vida. A Liberdade dada aos filhos deve ser dada de forma progressiva, adequada à sua idade e com uma exigência de responsabilidade proporcional. E outros pequenos detalhes relevam. Se à mesa do jantar, se falar de política, de economia, de história, das noticias do dia, muito mais facilmente o jovem cresce num ambiente de cultura, de pensamento. A sua capacidade de pensar e opinar é muito maior. A educação é quanto a mim o principal factor de maturidade. Outros haverão. Acho que ajuda muito, a outra acepção da palavra educação, ou seja o estudo que é desenvolvido. Acho que existem muitos cursos, que pela sua enorme exigência, obrigam os jovens a, rapidamente, definirem as suas prioridades e perceberem que uma postura de responsabilidade é a única que se coaduna com sucessos futuros. O caminho nunca pode ser, se chumbares ficas de castigo. A conversa deve passar por, se chumbares isso vai afectar o futuro por isto, isto e isto. E o problema é cíclico: Que educação vão dar esses filhos aos seus filhos?

Fico arrepiado com a postura de alguns pais e com a forma como lidam com o crescimento dos filhos. E fico arrepiado com a atitude de alguns filhos que, ab initio, tinham condições para ser muito melhores. Mais, fico triste com a regressão que muitas pessoas, algumas até próximas, projectam. Pessoas, que em certo momento da sua vida, pareciam estar bem encaminhadas, materializando de forma acertada um conjunto de valores que lhe foram incutidos e que num ápice, deitam tudo a perder com três ou quatro situações.

A maturidade não é sinónimo, note-se, de uma constante seriedade ou rigidez. Maturidade não é fazer sempre tudo bem. Maturidade é aquilo que nos faz não fazer sempre tudo mal. Maturidade é aquilo que nos permite perceber até onde podemos ir, quais são os limites. Maturidade é percebermos que podemos cometer um excesso ou outro, fazer uma ou outra coisa que se fossem constantemente repetidas eram más, mas que naquela situação em particular não acarretam problemas.

Outro problema é o da sociabilização. As pessoas que nos rodeiam. Conheço um caso que é dramático. Alguém que até há algum tempo atrás, tinha uma vida relativamente estável, relação estável, um grupo de amigos relativamente alargado, que era respeitada por um conjunto de pessoas e, sobretudo, que era admirada por muita gente. Pelos seus valores, pela sua forma simples e humilde com que encarava as pequenas coisas, pela enorme capacidade que tinha de rir e de fazer rir. Pelo bastar de um pequeno gesto para fazer a pessoa feliz. E para essa pessoa com pequenos gestos fazer os outros felizes. Num ápice e por culpa própria perdeu tudo isso. E, nesse caso, há culpas por parte dessa socialização que ocorreu. É um caso, quanto a mim, dramático de um aproveitamento inaceitável de alguma fragilidade emocional e de uma grande permeabilidade a influências. Três ou quatro abutres, para quem o cheiro a vodka lhes abre o apetite. Para quem facilidade é mais giro que dificuldade. Para quem o importante é ter uma situação fácil, cujo binómio satisfação/tempo perdido seja o mais diminuto possível. E depois, um conjunto de pessoas, profundamente frustradas que assim têm alguma companhia. Pessoas, a propósito do post, que já com mais de 30 anos, continuam a exibir um nível de maturidade, abaixo do exigido a pessoas com 14 anos. Enfim, um quadro trágico.

Tudo visto, parece-me efectivamente, que quanto muito a idade poderá ser factor de maturidade, mas não factor exclusivo nem tão pouco o mais importante. Acho que acaba por ser um facto de alguma tolerância. Recai sobre uma pessoa de 13 anos, com o seu intelecto em profundo desenvolvimento, um nível menor de exigência do que recairá sobre alguém com 30 anos. Mas não existe uma ligação sem mais. A própria lei, por exemplo, em sede de relação sexual com adolescentes, distingue: Apenas é crime, um maior ter relações sexuais com um menor de 14,15 ou 16 anos, se manifestamente abusar da sua ingenuidade, isto é, o próprio legislador configura esta ideia de que pode existir uma maturidade diferente aos 14, 15 ou 16 anos. Maturidade sexual, mas também maturidade psicológica.

Os conceitos são dispares, e o QI deve sempre estar à frente do BI. No outro dia mandaram-me umas notas sobre o meu signo. Para quem acredite na influência astrológica, dizia qualquer coisa como eu ter pouca paciência para infantilidades. Eu emendaria, tenho pouca, mas mesmo muito pouca, paciência para imaturidades. Algumas vou desculpando. Não tem culpa de alguns dos factores que referi. Outras, não posso desculpar, pois ab initio tinham todas as condições para materializar um nível de maturidade conveniente e por culpa própria “estragaram-se”. E num ou dois casos mais graves, tenho pena, muita pena. Provavelmente, o pior sentimento que se pode nutrir por uma pessoa. Ainda pior que o ódio, que demonstra que não existe indiferença.

Ultima nota, apenas para salientar, que a linha que separa a imaturidade e o facto de se ser má pessoa deliberadamente, é ténue. Por exemplo, quando certas pessoas, expõem aos quatro cantos do mundo a sua imaturidade, como que sinalizando, a abertura da época de saldos, veja-se muitos e muitos perfis por essas redes sociais fora, podemos cair na deliberada má personalidade. No outro dia, num copo que bebi uma noite dessas com amigos, falava que existe uma linha ténue que define, no caso, uma mulher interessante. Algumas mulheres (mas o conceito é extensível à generalidade das pessoas) não se conseguem manter nessa linha. E algumas e alguns caiem numa vulgaridade sem precedentes. Que lhes pode permitir, se a vulgaridade não for muito saliente, serem pessoas porreiras para se beber um sumo de laranja ou uma vodka preta. Mas nunca serão pessoas interessantes, que realmente pesem, que realmente assumam um papel preponderante na nossa vida. E outras pessoas há, que caiem mesmo numa vulgaridade total, que não conseguindo demonstrar os seus atributos intelectuais, para se afirmarem, em certos contextos, têm que mostrar os seus atributos horizontais, o que é absolutamente lamentável.

Enfim, caras leitoras e caros leitores, mais uma reflexão abstracta. Após uma ou duas conversas, a leitura de dois ou três artigos e uma visita rápida por uns perfis nas redes sociais.

2 comentários:

Ana Suwa 14 de janeiro de 2010 às 22:02  

Segundo Enrique Rojas, psiquiatra espanhol:

Imaturidade = Desfasamento entre a idade cronológica e a idade mental + Desconhecimento de si próprio + Instabilidade emocional + Pouca ou nenhuma responsabilidade + Pouca ou nenhuma percepção da realidade + Ausência de um projecto de vida + Falta de maturidade afectiva + Falta de maturidade intelectual + Pouca educação da vontade + Critérios morais e éticos instáveis.

PS: http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/tag/imaturidade. Para leres. Não conseguia esmiuçar melhor!