Dia B, por Bruno Antunes

>> domingo, 15 de novembro de 2009

Complexos e não só.

Normalmente analiso o futebol centrando a minha análise no meu clube, não gosto de passar o tempo a criticar terceiros, mas neste caso abro uma excepção até porque é de um clube com história que se trata e que mal passa. Esse clube é o Sporting.
O Sporting durante muitos anos foi conotado com a classe alta da sociedade, com os burgueses, com os tios e tias de Cascais que aos fins-de-semana lá iam apoiar os de Alvalade. Aliás, quem possibilitou a criação do clube era Visconde, o que se não diz muito, diz pelo menos alguma coisa.

Com o passar dos anos, este estereótipo (ou não), perdeu algum gás. Hoje em dia o Sporting já tem uma massa adepta mais popular, algo que não se pode dizer dos órgãos directivos que contam ou contaram com Roquette’s, Soares Franco’s e Betencourt’s.
Criado apenas 2 anos depois do Benfica (o chamado clube do povo e nesse ponto muito diferente do Sporting), o Sporting sempre mostrou algum complexo relativamente ao rival de Lisboa. Todas as suas atitudes (dos titulares dos órgãos directivos) apontam para isso mesmo. Esta ideia é reforçada pelas palavras de Paulo Bento. “O Sporting tem um complexo de inferioridade relativamente ao Benfica”. Nem era preciso ele vir dizê-lo, está à vista.

Os exemplos são vários. O Sporting ficou contente por ter ficado 4 anos seguidos em 2º lugar, não pelo lugar em si, mas por ter ficado imediatamente acima do Benfica. Caso o Benfica tivesse nesses 4 anos ficado em 1º lugar a conversa era outra e Paulo Bento já tinha ido de férias há mais tempo.
Nos programas desportivos o representante ou comentador afecto ao Sporting é sempre mais intolerante e demonstra mais ódio com o do Benfica que com o do Porto. Se duvida do que afirmo convido-o a ver um destes programas. Repare-se que o Benfica não ganha o Campeonato desde 2005 e não o ganhava antes disso desde 1994. Porquê tanto ódio?

Se o Apito Dourado fosse um processo relativo a corrupção pelo Benfica cantar-se-ia uma canção diferente lá para os lados de Alvalade. Como foi com o Porto teve que ser o Benfica a lutar até às últimas instâncias pelo futebol justo visto que os restantes clubes, Sporting incluindo, se estavam a marimbar.

Se em vez de o Benfica ter mais 11 pontos que o Sporting neste momento tivesse menos 1 ou mais 2, no fundo se estivesse mais próximo do rival, o comportamento seria muito diferente. Provavelmente a onda de contestação seria bem menor pois o Benfica não estaria tão bem e é isso que interessa.

Analisem-se as últimas épocas, o Sporting raramente manifesta vontade de lutar pelo título de início. Logo cedo começa a ficar para trás, funcionando numa lógica diferente do Benfica, que começa por dar luta mas perde fôlego no final, sendo ultrapassado, dando ideia que é o Sporting que realmente disputa o título.
Porém, esta dependência não é um exclusivo do Sporting, basta ver os jogos da liga portuguesa para percebê-lo, nem é preciso o Benfica estar a jogar.

Ainda que não seja um exclusivo, é algo característico do Sporting e reflecte-se nos resultados actuais e nas suas exibições. A “depressão” causada pela pré-época benfiquista (palavras semelhantes às de Paulo Bento) associada às condições financeiras do Sporting atiraram o clube para este cenário.

O clube não conseguiu contratar jogadores de qualidade. Tem no seu plantel uns 5 jogadores razoáveis mas que dificilmente conseguiriam assegurar lugar no Benfica ou mesmo no Porto.

Veja-se a forma desajeitada como se lançaram na busca de um treinador. Como diz Ricardo Araújo Pereira “Treinador do último da liga veio a revelar-se fantasia impossível para o Sporting”. Como é que o Sporting não consegue contratar um treinador de um clube pequeno? Fosse o Benfica ou o Porto e já estava assegurado. Vejam-se os casos de Jesualdo Ferreira e Jorge Jesus que saíram de Boavista e Braga respectivamente sem ter terminado a duração estipulada no contrato. Um clube grande consegue fazê-lo e sem grande alarido.

Todas estas são razões e consequências para o actual momento do Sporting. Se não se altera a mentalidade, dificilmente se alterarão os resultados.

Fica o reparo.

8 comentários:

António Lopes da Costa 16 de novembro de 2009 às 12:35  

Complexos existirão sempre, de vários grupos de pessoas e de todos os clubes.
Relativamente ao apito dourado, creio que lhe escapou a memória. Porque foi precisamente o Sporting que apontou o dedo.

Sporting e Benfica são clubes diferentes. O Benfica quis pagar ao Braga alguns milhões pelo Jorge Jesus. O Sporting não quis dar tanto dinheiro por um treinador que, enquanto tal, apenas fez três ou quatro jogos.

Mas voltemos aos complexos. Eu sou do Sporting e não me sinto complexado. Porque não me identifico com o Benfica. Se quero ficar à frente, claro que quero. Mas já fiquei atrás. Como fiquei à frente. Isso aconteceu e irá acontecer sempre.

O Sporting sempre foi um clube eclético, apenas superado pelo Barcelona em número de títulos conquistados. É um clube que adora o espírito do desporto, que ama a verdade desportiva. É um clube feito de homens que quer formar atletas. Nos últimos 10 anos, 2 dos melhores jogadores do mundo foram formados em Alvalade.

Nós formamos. Não compramos feito - tipo "fast food". Os campeões que temos (mesmo os que ganham medalhas olímpicas) são feitos em casa.

Enfim. Sporting e Benfica são dois clubes com métodos e ideias quase opostas. O Porto é o Porto. Benfica é Benfica. O Sporting é Clube de Portugal. E isso não me faz ter complexos. Apenas me sinto engrandecido porque se todos os clubes fossem como nós (que partilhassem os nossos valores), os estádios iriam estar mais cheios, iriam ser fomentadas pequenas rivalidades regionais (essenciais num desporto de massas) e possivelmente iriamos ter uma selecção nacional que fosse mesmo cem por cento...portuguesa.

Uma nota mais. Para criticar alguns benfiquistas. No desporto, pior do que não saber perder, é não saber ganhar. Esta coisa do "vale tudo" é completamente estranha ao que deveria ser o desporto. Muitas histórias haverão para contar. Histórias das piores magias. Sobretudo aquelas que fazem desaparecer milhões de euros, aquelas que destroem carreiras de dezenas de atletas e que fazem praticamente acabar um clube...como aconteceu com aquele clube de Alverca.

Mas isso é outro tipo de histórias. Que nunca se passaram, nem se irão passar, no Sporting. É também isso que nos diferencia.

Um abraço

Tiago Mendonça 16 de novembro de 2009 às 18:01  

António,

Por vezes há que tirar os óculos verdes. Confesso que eu próprio às vezes tenho dificuldade em tirar os óculos vermelhos. E os dois partilhamos da dificuldade em tirar os cor-de-laranja.

O Benfica quis pagar menos de um milhão de euros por Jesus. O Sporting também queria. Mas não tinha dinheiro. Como explicou Paulo Bento, o Sporting também queria Saviola ou Cardozo, mas não há dinheiro e por isso vem Caicedo e Angulo.

Para mim o grave, e o que demonstra um Sporting a definhar, é a incapacidade do Sporting de ir contratar um treinador ao ultimo classificado da liga. Mais, a incapacidade de ir buscar qualquer treinador com emprego.

Recorreram a um treinador que é despedido sucessivamente pelos vários clubes onde passa. Ha poucas semanas, deixou o Maritimo à beira do colapso tal a sua incapacidade. O Sporting foi buscar um treinador que não tinha lugar em algumas equipas da Liga Vitalis. E o pior é que até acho que vão ganhar ao Benfica. Aí Carvalhal será Mourinho, os gritos estridentes serão mais perceptiveis e o homem terá mais dois ou três meses de crédito.

O Sporting é uma equipa que funciona do curto prazo. Uma lógica de mercearia. Se ganharem um joguinho (Twente) lá se consegue ir buscar mais um jogador, se forem à Champions outro. Agora lapidaram patrimonio para terem mais 18 milhões.

Fala-se numa alegada falência do Benfica. Mas concordarás comigo que vou ser amigo na análise que faço de seguida, sobre o valor dos 11 jogadores do Sporting que costumam jogar de inicio. Valor de Mercado.

Rui Patricio - 3 milhões de euros
Pedro Silva - 400 mil euros
Carriço - 5 milhões de Euros
Polga - 800 mil euros
André Marques - 100 mil Euros
Veloso - 5 milhões de euros
Izmailov - 4 milhões de euros
Moutinho - 10 milhões de euros
Matias Fernandez - 3 milhões de Euros

Total: 37 milhões e 800 mil euros.

E sabes que estou a ser amigo.

Di Maria tem propostas de 40 milhões de Euros. Aqui é o problema. Ou o problema reside em Cardozo ter mais golos que a equipa do Sporting toda junta.

Sobre o ecletismo, quando as coisas correm mal no futebol, fala-se de modalidades. Sou daqueles que considera que um campeonato nacional em esgrima não é o mesmo que um campeonato nacional em Hoquei em Patins.

O Sporting perdeu a hegemonia do Futsal para o Benfica. Nao tem basquetebol. Nao tem andebol (em termos de competitividade por titulos). Não tem hoquei. No Ténis de Mesa ganham sempre.

Évora e Vanessa Fernandes são do Benfica. Naide Gomes do Sporting.

Outro argumento é o da formação. O que me adianta formar Ronaldo se o vendo por 15 milhões? Aliás o que me adianta formar Quaresma ou Simão, se os dois rivais tem condiçõs para os ir comprar às equipas para as quais os exportámos e nós não conseguimos resistir a uma qualquer oferta?

E depois vários outros problemas estruturais. Mas isso remeto para um texto que aqui escrevi sobre o assunto.

O Problema do Sporting é que é um clube grande. Com uma boa massa adepta. Mas o que interessa é sempre o Benfica. Agora, vários sportinguistas, torcem pelo Braga. O que interessa é que os "Lampiões" percam. E isso é miserável.

Quanto ao Porto nem comento. Uma vez fui à Sertã assistir a um Sertanense-Porto, e a claque do Porto entoava cânticos sobre o Benfica. Para um clube que dominou os ultimos 25 anos e ganhou titulos europeus, isso diz muito.

Mas pronto António, finalizando, o que importa é estarmos contentes. Se estás com o teu Sporting eu estou com o meu Benfica.



Liedson - 4 Milhões de Euros
Caicedo - 2,5 milhões de Euros.

Total do Onze do Sporting:

Tiago Mendonça 16 de novembro de 2009 às 18:02  

No fim Liedson e Caicedo deveriam estar juntos à restante equipa. Por lapso foram "lá parar a baixo".

António Lopes da Costa 18 de novembro de 2009 às 03:12  

Não vou alimentar ilusões nem caír no ridículo do valor de mercado dos jogadores do Sporting. Essas deixo-as para quem delas vive.

Também não vou comentar o loteamento do antigo estádio nem o protocolo com a CML. A nível da património, um benfiquista não tem moral nenhuma para falar. Infelizmente.

Sobre o treinador, não querer (aceitar determinadas condições) é diferente de não conseguir. O Sporting poderia ter ido buscar, mas optou por não o fazer. Se fez bem ou mal, cá estaremos para ver.

Quanto às modalidades, isso do andebol não é verdade. E que cabazada deu o Sporting ao Benfica no mês passado!...

No futebol de salão, é diferente. O Benfica investe mas não tem retorno. Vive acima das suas possibilidades e vai fazendo esquecer, comprando os melhores jogadores ao Sporting e ganhando nessa modalidade, os desastres no desporto-rei.

Quanto à importância das modalidades, discordo. Não podem ser mais importantes só porque o Benfica as tem ou porque as ganha.

Falei delas apenas para evidenciar o facto de ser o Sporting a grande instituição desportiva que mais aposta na formação de jovens atletas e que luta, sempre quase sozinho, pela verdade desportiva em Portugal.

Mas este texto falava de complexos. Eu, pessoalmente, não os tenho. Quem os tem é que costuma escrever nas alturas em que está por cima. Mas não os tenho por uma razão muito simples, que tem a ver com a identificação. O Sporting e o Benfica, sendo da mesma cidade, representam duas coisas diferentes. E revejo-me nos ideais, na forma de encarar o desporto do Sporting.
É mais ou menos como PSD e PS. São dois partidos diferentes, revejo-me nas ideias do PSD e isso impossilita eventuais complexos que se possa ter.

Um abraço

Tiago Mendonça 18 de novembro de 2009 às 14:03  

Caro António,

Relembro apenas, e porque já existiram confusões num outro post, que ambos os textos não são da minha autoria. Este é do Bruno Antunes, habitual colaborador do Laranja Choque, o outro retirado de um blogue de apoio ao Sporting, que, por acaso, desconhecia pertencer à corrente da oposição leonina.

Quanto ao que aqui escreves, se achas que o Sporting não quis mesmo contratar Villas Boas, está bem. :)

Bruno Antunes 19 de novembro de 2009 às 00:05  

Caro António Lopes da Costa,

O complexo de que falei no texto está à vista no seu comentário. Este está repleto de comparações com o Benfica.

Repare “A nível de património, um benfiquista não tem moral nenhuma para falar. Infelizmente.”; “Quanto às modalidades, isso do andebol não é verdade. E que cabazada deu o Sporting ao Benfica no mês passado!..”; “No futebol de salão, é diferente. O Benfica investe mas não tem retorno. Vive acima das suas possibilidades e vai fazendo esquecer, comprando os melhores jogadores ao Sporting e ganhando nessa modalidade, os desastres no desporto-rei.”; “Quanto à importância das modalidades, discordo. Não podem ser mais importantes só porque o Benfica as tem ou porque as ganha.”.

Afirmar que não se têm complexos e depois evidenciá-los deste modo não deixa de ser contraditório.

Já percebi que o Benfica é importante para vocês sportinguistas, mas chega por vezes a ser escabroso o modo como se fala do Benfica.

Veja esta passagem no seu 1º comentário. “Uma nota mais. Para criticar alguns benfiquistas. No desporto, pior do que não saber perder, é não saber ganhar. Esta coisa do "vale tudo" é completamente estranha ao que deveria ser o desporto. Muitas histórias haverá para contar. Histórias das piores magias. Sobretudo aquelas que fazem desaparecer milhões de euros, aquelas que destroem carreiras de dezenas de atletas e que fazem praticamente acabar um clube...como aconteceu com aquele clube de Alverca.”

Quer concretizar? É interessante que com tantos problemas de justiça desportiva, o leitor se lembrou logo do Benfica. Deve ser porque temos ganho tudo o que há para ganhar levados ao colo…ou não.

Termino este comentário como terminei o texto. Mude-se a mentalidade.

(As citações contêm algumas correcções).

Cumprimentos.

António Lopes da Costa 19 de novembro de 2009 às 12:19  

Eu não vou continuar esta discussão. Já expliquei o que tinha que explicar e as comparações, só as fiz, porque era precisamente delas que se falava no blogue.

As concretizações deixo-as para quem quis concretizar naquelas coisas do Ovchinikov, ou lá como se chamava, que me lembro bem onde jogava.

O Benfica está, neste momento, no caminho certo. Poderia alongar-me um pouco mais, mas não o vou fazer.

Prefiro deixar o Bruno saborear este momento feliz do seu clube. E, como em relação aos adeptos bósnios, vou dar alguma tolerância. Porque, para um passado recente de terceiros e quartos lugares, de uma eliminação sem vitórias na Uefa, o facto de se estar empatado com o líder e a um passo de conseguir chegar à fase seguinte da Liga Europa é motivo mais do que suficiente para insultar e espezinhar os adversários.

Possivelmente, quando passar este momento menos feliz da história do meu clube, também vou agir assim.

António Lopes da Costa 19 de novembro de 2009 às 12:28  

* Sobre a justiça desportiva, não é sério dizer que só falo do Benfica. Até porque foi o Sporting que apontou o dedo na questão do Apito Dourado e...não se fez Justiça.
Talvez o Bruno seja daquelas pessoas que ache normal um grupo de adeptos sem bilhete desatar a atirar pedras numa academia de atletas, num local cheio de famílias.
Talvez ache normal que se incendeiem autocarros. Ou uma sede da primeira claque, que fez trazer o mundo ultra a Portugal. Talvez compreenda que se assassine um adepto de outro clube.
Talvez olhe com normalidade para o "fim" do Alverca. Ao qual o Benfica ainda recentemente deu 2 milhões de euros. Onde foi buscar 10 jogadores, que nunca ninguém os voltou a ver.
Eu não sou assim. E não me sinto nada complexado por não ser. Mesmo que, durante algum tempo, isso custe estar em abaixo de quem prefira esses métodos, essa forma de estar na vida e no mundo do desporto.