Jovem?

>> segunda-feira, 27 de julho de 2009

No outro dia, uma pessoa que conheço, dizia que eu tinha um feitio, que não se enquadrava no conceito de Jovem. No seu conceito de jovem, deveria ter acrescentado. De que se tratava o estereotipo? Ir a concertos, festivais e festas. Averiguei, e numa rápida passagem pelo seu perfil, numa rede social perto de si, deparo-me com algumas fotos que explicam tudo.

1 em cada duas fotos, eis uma garrafa de cerveja na mão. No remanescente, não é uma garrafa, é um copo com cerveja. Enfim, o comentário, de menor importância, até porque foi sucedido de um pedido de desculpas, por de facto não ser bem assim, fez-me pensar no assunto.

E não, curiosamente, não vos irei bombardear com um texto sobre a degradação de valores. Nada disso. Vejamos o lado positivo.

Um jovem de 21 ou 22 anos, é alguém, que em condições normais, estará a acabar a sua formação, apto para entrar no mercado de trabalho. Pode então trabalhar, ter casa própria e até constituir família. Não sei se tarde, se cedo. Mas essa é a realidade. Mas detenhamo-nos sobre isto: Um jovem que estude numa Universidade Pública, pagará 1000 euros de propina actual, valor que, aproximadamente, corresponde a 1/5 do custo do aluno, isto é, ao fim de 3 anos de licenciatura, o “jovem” pagou 3.000 euros e o Estado investiu na sua formação 9.000 euros. Quem diz o estado, diz os meus pais que descontam para que esses “jovens” possam estar a estudar.

O dever de responsabilidade, deve imperar. Não me sinto bem, a saber que pessoas com o salário mínimo, descontam do pouco que têm para sobreviver, para que eu possa estudar, sem que eu retribua o mínimo dos mínimos. E como é que se pode retribuir à sociedade, tudo aquilo que ela nos dá? Na política, por exemplo. Mas de outras formas: Fazendo voluntariado, deixando de beber aquela imperial para dar esse valor a quem mais precisa, fazendo sessões de esclarecimento sobre qualquer assunto na sua faculdade, fazendo actividades de acção social, tendo um blogue e tentando criar o debate para que mais pessoas estejam mais informadas e aptas a retribuir à sociedade o que ela necessita, fazendo campanhas de angariação de brinquedos ou distribuindo panfletos sobre a reciclagem. Apenas alguns exemplos.

O Jovem deve sair à noite? Claro que sim. Cometer os seus excessos? Ocasionalmente, porque não? Agora esse deve ser o centro da sua vida? Não me parece.

Mas voltemos ao inicio. Estudo e tento ir retribuindo através da JSD. Equilibram-se as coisas. Fui Escuteiro, durante 10 anos, onde terei contribuído qualquer coisinha, também, embora o que recebi, foi muito, muito mais. E quem me dera ter feito mais e fazer mais! Mas também gosto muito de ir a um bom bar, ouvir um boa música e conversar um pouco com uma boa companhia. Adoro cinema. E todas essas coisas que um jovem faz. E sim, o escândalo, também gosto de concertos.

Mas repudio, isso sim, a fazer da minha vida isso. A sair três vezes por semana e a publicar fotos que evidenciam a triste figura, reconhecida por todos. O que tento não fazer é regredir. Andar para trás. Fazer aos 20, o que nem aos 15 seria admitido. O que não faço, é contradizer-me a cada segundo.

Isto leva para outro assunto, que apenas tocarei ao de leve. As pessoas têm que se convencer que existem idades para tudo. Não é aos 15 que se faz um interrail. Nem, talvez, seja aos 60 a idade mais adequada. Não é aos 20, que se compra uma quinta, e se passa os dias a desfrutar do sol, numa qualquer planície alentejana. Talvez aos 70. Não podemos querer fazer hoje, o que por uma razão ou outra não fizemos ontem.

Mas lembro-me de muito boa juventude. Lembro-me da Raquel Ratado, escuteira e bombeira, que dá quase tudo o que tem pela causa comum. Lembro-me da Sara Pestana, agora em missão em São Tomé. Lembro-me da Mariana, nos seus melhores tempos do Banco Alimentar. Lembro-me do trabalho fantástico que o Luís Guerreiro tem desenvolvido na WACT. Lembro-me de muitos jovens que vou conhecendo e que tanto vão dando à comunidade, com os dons que têm.

Até aos 20/25 anos recebemos tudo da sociedade. Tudo o que somos, depende do que os outros fizeram. A partir dessa idade e até aos 60 ou 65 anos é altura de retribuir. Vamos trabalhar, vamos fazer história e contar histórias, vamos constituir família, ter um cão ou um gato, ter o nosso lar e contribuir para os outros. Os que mais novos e os mais velhos. Depois dos 65, é altura de novamente sermos compensados e gozar do trabalho de uma vida. Em cada momento, cada coisa.

E em cada momento devemos ser jovens. Jovens de espírito. Lembro-me do meu avô, que com mais de 80 anos, continuar a fazer kilometros e kilometros por dia. Do meu Tio Quim e da Minha Tia Aldina, que mantêm a juventude intacta. Lembro-me da minha mãe que ninguém dá a idade que tem e de tantos outros exemplos. Ser jovem de espírito, é tentar manter a capacidade psíquica e física, verdadeiramente, “em forma”. É manter o espírito aventureiro e a curiosidade. Nunca definiria ser jovem ou não ser jovem, por ter um perfil no hi5, onde exponho fotos que nunca, mas nunca, deveriam ser publicadas. Não acho que ser jovem, seja dizer aos sete ventos que estou embriagado. Não acho que ser jovem, seja gastar centenas de euros por mês em bebidas brancas. Não acho que ser jovem seja passar pela vida, sem a viver. E não acho que ser jovem seja dar mais importância a um festival do que a umas eleições. Não acho também que a irreverência da juventude seja aferida pela mudança abrupta de personalidade ou pelo número de vezes que magoamos alguém.

Mas fica para o caso da interlocutora da altura ler isto, a mesma pergunta que lhe deixei pessoalmente:

“Será que não percebeste qual era o caminho de juventude que eu tinha escolhido?”.

Na vida…há sempre novas jogadas e novos jogos. E muitas vezes, quando o adversário nos grita xeque-mate, já movemos a peça e contra atacámos. E, como sempre te digo a ti, e como sempre vos digo a vocês, o mais importante é sermos felizes a cada momento e, se possível, que essa felicidade não seja à custa da tristeza e da mágoa dos outros.

3 comentários:

OrangeGirl 29 de julho de 2009 às 02:26  

é interessante ver como alguém com a sua idade analisa certos e determinados assuntos..
a questão da idade é bastante importante e claro que existem idades para tudo.. mas as vezes não sabe bem esquecer a data apresentada no BI e voltar uns anos atrás?
analisando a questão faz todo o sentido o que é dito.. existem idades e momentos para tudo, se assim não fosse não encontrariamos raparigas de 14 e 15 anos com um filho nos braços.
e não digam que é por falta de informação, porque actualmente existe muita informação e várias formas de chegar até ela..
trata-se de quererem marcar uma posição juntos dos outros, quererem ser ou parecer mais crescidas.. adultas.. e depois acabam muitas das vezes sem condições e maturidade para tomarem conta de si mesmas.. quanto mais de um bebé..

na vida existe um tempo, um local e uma oportunidade para tudo e devemos aproveitar.. devemos errar, para aprendermos e irmos corrigindo as falhas do nosso ser.. devemos ser genuinos.. aproveitar cada segundo..

Tiago Mendonça 29 de julho de 2009 às 02:41  

Orange Girl,

Claro que sabe bem por vezes recuar uns anos atrás. Fazer umas maluqueiras sem pensar. Não pode é ser uma constante. Não podemos recuar todos os dias.

Quanto ao resto, concordo com o exemplo que dá sobre a questão da gravidez na adolescência. Muito bem enquadrado.

Concordo inteiramente com o seu último paragráfo. Ainda ontem falava com uma amiga, sobre isso mesmo. Temos, muitas vezes na vida, um pequenino momento de decisão. Lembro-me bem de há uns dias atrás, num Conselho Distrital, após um discurso totalmente adverso e falacioso, ser obrigado, em poucos segundos, a pensar numa resposta. A decidir exactamente o que dizer. Nem sempre é fácil.

Claro que há um truque. Pensar sobre as coisas, abrir cenários, ponderar várias alternativas. Tentar esgotar todas as hipóteses. Na altura fica mais fácil.

Voltando ao texto, ser genuínos. Sempre. Mas racionais, também. Por vezes em meia hora, estragamos tudo. E depois, não há remédio.

OrangeGirl 30 de julho de 2009 às 02:21  

boa noite,

concordo com o penultimo parágrafo, um bom truque.. mas nem sempre funciona.. nem todas as pessoas têm a capacidade de o utilizar e por vezes quando utilizam não o fazem da melhor forma.

relativamente ao ultimo parágrafo, não concordo com a última frase. há sempre remédio para tudo carissimo. E ai, por muito genuinos que sejamos, temos que deixar o nosso orgulho de parte e saber dar o braço a torcer ou perder a sensibilidade e ser frio, dependendo sempre da situação claro..

Há sempre uma solução para tudo, se não estiver a vista basta procurar bem no fundo.. quando menos esperamos lá está ela.. a surgir naturalmente..

e talvez se a maioria das pessoas tivesse um pensamento aproximado ao acima referido a maneira da sociedade encarar certas e determinadas coisas seria diferente.. talvez mais positiva.