Trilogia dos Valores da II República. Onde está o mal?

>> quinta-feira, 21 de maio de 2009

Não seria necessário o intróito que se segue, não fosse as interpretações turvas de algumas personagens, mas como é obvio condeno, a maioria das coisas que foram feitas no regime salazarista, desde logo à supressão das liberdades, nomeadamente, no domínio da expressão e da comunicação. No regime autoritário, seria impossível escrever com toda esta liberdade de espírito aqui no Laranja Choque, por exemplo. Mas também não foi o 25 de Abril que nos trouxe essa liberdade. Quanto muito, o 25 de Novembro. Mas sobre essa temática, já escrevi, e remeto para o meu post sobre o 25 de Abril, escrito, originalmente, para “Um Blogue do Caraças” e depois reproduzido aqui. Hoje escrevo-vos sobre os valores defendidos nesse período. Esse foi um dos pontos positivos, muito positivos mesmo, pelo menos no plano teórico, da II República.
Deus, Pátria e Família. É sobre esta trilogia que vos quero falar.

A obrigatoriedade e imposição de uma religião, qualquer que ela seja, é mau e merece condenação. Sou a favor, obviamente, da separação entre estado e Igreja a favor de um laicismo. Mas ficamos por aqui. Separação. Muitas vezes não presenciamos um estado laico, mas antes um Estado que é contra a Igreja. E isso já não é admissível. Mas a confusão entre Deus e Igreja, também não deve ser feito. Admito, perfeitamente, alguém que acredite piamente em Deus e não se reveja na Igreja Católica, por exemplo. Uma breve nota: A Igreja será sempre Santa, porque foi criada por Deus, será sempre pecadora porque é feita de homens. Posto isto, afirmo, que no meu entendimento, como base de toda a minha vida, está Deus. E nesse sentido, à cabeça desta trilogia de valores que defendo, está Deus, está Jesus e está a vivência numa fé arrebatadora, certa. Que se sente no quotidiano.

Quanto à Pátria, acho que o sentimento de afecto, orgulho e esforço por dignificar a nossa bandeira é hoje muito reduzido. Instalou-se em Portugal, o “Chico-espertismo”, o salve-se quem puder, uma total apatia sobre os interesses nacionais. O Homem deve ser um fim em si mesmo. Claro. Deve ser colocado num plano de primazia relativamente à própria colectividade? Sim. Deve esquecer-se que está numa colectividade? Nunca. Não pode. Somos uma equipa. Deveríamos ter esse espírito. Hoje trabalhas tu, e com os teus descontos, pagas as reformas a quem trabalhou ontem e pagas os estudos a quem vai trabalhar amanhã. Quem tem reforma, deveria ser mesmo só quem trabalhou, e não artimanhas que algumas pessoas fazem. Quem estuda, tem mesmo que estudar muito, investir muito na sua formação pessoal para depois a colocar ao serviço da comunidade, incrementando a produtividade e paralelamente o crescimento económico que levará ao aumento da riqueza e à melhoria da qualidade de vida para todos. A corrupção, e Portugal é perito nisso, é um dos grandes problemas da nossa sociedade (sobre isso falarei detalhadamente na rubrica Portugal, daqui a umas semanas). Tenho pena que muitos portugueses, apenas sintam o que é ser português, num torneio de futebol ou no entoar do hino por uma equipa de rugby. É preciso sentir e dignificar o País, todos os dias.

Família. Foi o colapso familiar, com a saída da mulher para o mercado de trabalho (que obviamente tinha que acontecer em nome da igualdade entre sexos, esquecida durante tantos anos e que não mais poderia esperar) que consentiu esta degradação dos valores a que assistimos hoje. A ruptura do núcleo familiar, completamente amorfo às preocupações e anseios dos filhos, a indiferença pelos mais idosos que tanto deram por toda a família, a correria durante todo o dia, as refeições em comum que são cada vez menos, transformaram muitos lares portugueses, numa pensão onde as pessoas se conhecem mas não se relacionam, verdadeiramente. Acho inadmissível (falou-se nisso do post em que figurava a imagem de uma personagem da banda desenhada e em que um comentador, o Pedro, referia a quebra do núcleo familiar) que tantas famílias, tantas mães e tantos pais olhem com indiferença para o que os filhos vão fazendo. Poderei um dia arrepender-me do que escrevo, e ser atraiçoado por estas palavras, mas creio que um acompanhamento desde cedo, uma preocupação constante e diária, tornam impossível que um filho fume descaradamente, sem que os pais saibam (ou queiram saber, acho que, infelizmente, é mais isso) que beba uma dúzia de vodkas num qualquer espaço de diversão nocturna, que participe, como noticiou a revista Sábado, em Orgias, com cocaína metida ao barulho, com 12 anos, que pratique (conheço o caso) sexo oral aos 9 anos, que roube em supermercados, que minta descaradamente, dizendo que vai dormir em casa de uma amiga e afinal nem sequer dorme, que tenha 24 relações ocasionais em poucos meses, e todo um conjunto de actos menos correctos. Acho que toda esta degradação se deve, essencialmente, à quebra do núcleo familiar, a fragmentação da Instituição Família, que está hoje, completamente esfrangalhada e não interessa a ninguém.

Defendo, portanto, esta trilogia de valores. Talvez, e repito, no plano teórico, o grande legado que a II República nos deixou.

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