Opinião de Tiago Fonseca
>> sexta-feira, 1 de maio de 2009
Escassez e Lotação
Escrevo pela primeira vez neste blog, agradecendo desde já o convite a mim feito.
Começo com a história de um caso.
“
O Zé frequentava ainda o ensino secundário quando a sua paixão pelos animais marinhos despoletou toda a sua atenção nos oceanos, levando o Zé a procurar cada vez mais informação sobre eles. Descobriu que, noutros países da Europa, existia um curso que seria óptimo para ele. Oceanografia. Na sua pesquisa descobre também que Portugal está a pensar criar o curso, mas apenas no Algarve.
O Zé acaba o ensino secundário e inscreve-se em Oceanografia, o curso dos seus sonhos, no Algarve. Entrou no ano inaugural do curso no nosso país, concluindo o curso nos cinco anos previstos para o efeito e pertencendo assim ao primeiro grupo nacional a ter uma Licenciatura em Oceanografia.
Cinco anos depois da conclusão do curso, o Zé trabalho numa empresa de entregas, pois não encontrou emprego na sua área.
“
No nosso país continuam a ser criados cursos sem saída profissional projectada e/ou real, que tem obrigatoriamente de existir quando os cursos são criados. Não tem lógica ser criado um curso de Oceanografia (e repare-se que Oceanografia é um exemplo, existindo outros) no nosso país se não há investigação na área, desenvolvimento da área e/ou mesmo utilidade prática da formação dos novos profissionais.
Pensem assim. De que serve tirar a carta num sítio sem carros? Ou mesmo sem local onde andar com o carro? A resposta é simples. Não serve de nada.
Outro cenário semelhante em falta de lógica, mas oposto em números. O anterior, onde não há emprego. Este que vos apresento agora, onde há de mais.
Mais uma vez, o que ganha o país quando forma profissionais de um área lotada dos mesmos? Peguemos na Psicologia. O curso de psicologia é leccionado em mais de 70 faculdades pelo país fora. Se em todas as elas saírem 100 profissionais por ano, ao todo, todos os anos, saem 7.000 psicólogos. Não será exagerado este número num país onde não há pouco emprego para os psicólogos? Mais uma vez, Psicologia é um exemplo entre vários.
Formar por formar continua a não ter lógica. Seja Oceanografia, seja Psicologia. O congelar do curso em questão poderia ajudar. Proponho a paragem de um ano quando estas situações de escassez ou lotação de emprego se manifestem. Neste tempo, postos de trabalho são criados, profissionais são reformados, etc. No caso de Oceanografia seria por não existir emprego. Com o desenvolver de postos e investigação, talvez a abertura do mesmo seja necessária e aí sim, com lógica. No caso da Psicologia seria para esperar serem necessários mais profissionais.
Poderão perguntar: “Mas nas candidaturas ao ensino superior não passariam de 500 candidatos a 100 vagas para 1000 candidatos às mesmas vagas?”. Passaria sim. Mas não encaro essa consequência como negativa. Por um lado, estimula a entrada noutros cursos, superiores e tecnológicos. Por outro, contraria a tendência do Governo de empurrar os jovens até ao fim do secundário, obrigando-os a trabalhar mais pelo que realmente querem e a se esforçarem por médias competitivas.
2 comentários:
Um excelente post do Tiago Fonseca referindo o que há muito venho defendendo. É urgente reduzir o número de cursos em Portugal, visto que muitos, em vez de passaportes para uma vida melhor, são centros de...desemprego.
Sem dúvida, e devo acrescentar que este texto vem exactamente duma conversa nossa onde juntámos opiniões referentes ao tema. :)
Os dois cursos que falo são uma realidade próxima minha, visto que Psicologia é o que estou a tirar e Oceanografia tirou uma prima minha, mas, infelizmente, podia ter referido muitos outros que não se percebem a existência.
Enviar um comentário