Opinião de Daniela Major*

>> quinta-feira, 7 de maio de 2009

Façamos o seguinte exercício: Imaginemos que Eça de Queiroz estava vivo em 2009. Imaginemos que continuava a escrever, imaginemos que para além de livros, comentava em jornais, revistas e provavelmente televisões. Depois perguntamos: o que criticaria Eça? Em várias obras Eça critica a sociedade. A educação. As mentalidades. A classe politica. Mas hoje, o que criticaria hoje, Eça? A resposta não é difícil.

Há uns tempos, enviaram-me um mail que mostrava um texto que Eça escrevera para um jornal a criticar a situação política e social do fim do século XIX. Há mais de 100 anos atrás. E, espantada, verifiquei que aquele texto, que aquela crítica podia ter sido escrita para a edição do PUBLICO de Domingo. Podia ser um texto escrito para hoje. Tinha apenas que se mudar os nomes. É igual. Passaram mais de cem anos. Passou-se uma monarquia decante, uma primeira república falhada, uma ditadura, e por fim, cá estamos em Democracia, e continuamos na mesma. Os políticos continuam a querer o poder não para resolver a Situação, mas para se pôr a salvo dela. O povo continua preconceituoso. Continuamos a achar que quem tem dinheiro há de ter todas as outras boas qualidades. O povo continua inculto, porque a cultura ainda é para as elites. Continua a imperar a “esperteza”, em vez da inteligência. Não valorizamos o método nem o mérito. Mudamos de Partido e de ideias (menos de clube que isso é até morrer) quando mais nos convém.

Podia continuar, mas não tenho mais palavras. Estas parecem pouco quando se trata de definir um país. Talvez eu seja pessimista. Talvez eu ache, tal como Eça, que o país continua uma choldra. O triste é verificar que, afinal de contas, não estou assim tão longe da verdade

*Autora do blogue www.camaradoslordes.blogspot.com - com apenas 16 anos de idade, autora de vários textos, como este, cuja reflexão e qualidade de análise são impares. Nesta e em qualquer idade. Sinceros parabéns à Daniela que nos brinda com este fantástico texto.

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