Portugal, por Tiago Mendonça

>> sexta-feira, 24 de abril de 2009

Um dos problemas que hoje se coloca na Política, é a comunicação. A mensagem dos agentes políticos não chega junto das pessoas, que estão completamente descrentes. Não acreditam na classe política, não acreditam em nada do que os políticos afirmam. Existe cada vez mais um fosso entre os agentes político e o eleitorado, com culpas, dos dois lados.

Considero que isso acontece, entre outras coisas, por existir um deficit de comunicação. Os políticos muitas vezes agem sem explicarem o porquê às pessoas. Não se pode aumentar os impostos, sem explicar porquê. E explicar o porquê não é falar de consolidação orçamental, de sanções da União Europeia, de equilíbrio das contas públicas, de divida externa, de deficit publico, de PIB ou de PNB. Isso é chinês para a grande maioria das pessoas.

Explicar é afirmar concretamente, que o que as pessoas vão pagar a mais em IVA, por exemplo, será utilizado aqui e acolá. Que as pessoas pagarão mais imposto e que esse dinheiro será canalizado para a construção deste e deste hospital. É preciso quebrar as barreiras comunicacionais entre o eleitorado e os agentes políticos. Acabar de vez com o politiquês. Falar Português e, sobretudo, falar verdade.

Conto uma história que comigo se passou, enquanto presidi à Associação de Estudantes da minha escola secundária, que ilustra bem isto. A certa altura decidi, com a minha equipa, retirar a mesa de matraquilhos, gratuita, que lá se encontrava e umas outras, julgo que a 20 cêntimos. A associação tinha pouco lucro, mas as pessoas estavam relativamente contentes, pois ainda que as mesas fossem de pior qualidade jogavam a preços baixos ou nulos.

Decidi a certa altura, fazer um contrato, com outro fornecedor. Teríamos mesas novas, mas o preço era maior. 50 Cêntimos. Mais de o dobro. Diziam-me. As pessoas não vão perceber, vão criticar, e para o ano já não ganhas. Decidi explicar às pessoas.

Iríamos colocar as mesas, mas com os lucros que iríamos ter iríamos financiar este e aquele projecto. “In the end of the day”, a AE passou de lucros anuais na casa dos 100, 150 euros para criar receita, em menos de um ano, de cerca de 2000 euros. E falámos verdade. Um fantástico sistema de rádio, que custou perto de um milhar de euros, a remodelação da sala da Associação que deixou de ser uma arrecadação para ser um espaço digno, a informatização, com a compra de um computador e a realização de um enorme torneio de matraquilhos gratuito. A adesão foi enorme. As pessoas perceberam o projecto. Ajudaram. A adesão foi tanta que passámos de 17 bolas ao início para 7 bolas no fim. Fomos reduzindo e explicando que se assim não fosse, os alunos não conseguiam jogar todos, tal era a fila.

Fizemos uma Associação Lucrativa, informatizada e realizamos um projecto adiado ano após ano. Poderia ter sido horrível, se não fosse devidamente explicado.

Eis a importância da comunicação. Este exemplo pode e deve ser transposto para a política municipal e nacional. É possível falar verdade e numa linguagem que todos entendam. Só assim se vai conseguir motivar e mobilizar o povo português para os difíceis desafios que aí vêm.

P.S (D) – A propósito, no ano seguinte, ganhámos a Associação de Estudantes, com mais votos do que no ano transacto. Falar verdade, não significa perder eleições.

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