Estou enojado.

>> sábado, 4 de abril de 2009

Sou muito critico em relação às, ditas, discotecas do nosso país.

Já escrevi muito sobre isto. Noutros lugares. Já tive conversas infindáveis sobre a temática. Aliás, post’s abaixo, a propósito da degradação dos valores aludida no “a Escaldar” fiz menção ao facilitismo a que hoje se chegou. À banalização de tudo.

Directo ao tema. Durante anos, séculos, as mulheres lutaram pela igualdade. Igualdade jurídica, profissional, sexual, social. Enfim, lutaram e conseguiram. E ainda bem. Não há qualquer motivo para distinguir, no que aos direitos e deveres diz respeito, uma pessoa do sexo masculino e uma outra do sexo feminino.

O que hoje se passa, em muitos lugares, mas em especial, na maioria das discotecas, “rebenta” com qualquer igualdade. Aliás, acho mesmo que o que hoje se passa na maioria das discotecas, violenta o principio da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1º da Constituição.

Que o que se passa nas discotecas é ilegal, já nós sabíamos. Que frequentam esses espaços, (a que ninguém ou quase ninguém vai para simplesmente dançar) crianças de 11, 12,13,14 anos já todos sabíamos. É ilegal? É. Alguém faz alguma coisa? Não.

Mas passando isso, que parece que choca muita gente, mas não choca quem devia: A família.

Qual é o esquema das discotecas hoje: Um mediador (o dono da discoteca) dá dinheiro às mulheres, no sentido de estas pagarem muito, muito menos do que daria o lucro estimado à casa. Como não há almoços grátis, alguém tem que pagar a factura. Quem paga a factura são os homens. Que autenticamente pagam um serviço.

Já ouvi, vezes e vezes, rapazes dizerem: Vou ali à discoteca L (não devo referir o nome do espaço, mas não deve ser difícil do leitor descobrir). Pago apenas 12 euros e é garantido que vou…enfim…dar uns beijinhos a uma rapariga. Autenticamente isto. Ou seja os rapazes pagam um serviço. E o dinheiro reverte para as raparigas.

Eu não sei o que querem chamar a isto. Um homem paga a uma mulher para dar uns beijinhos. Chamem o que quiserem.

- É marketing Tiago!
- Talvez, mas será admissível que se utilize uma pessoa humana, como um meio para atingir um fim? Será admissível que se pague dinheiro a um ser humano, para servir de isco, no sentido de atrair homens, para a casa onde supostamente se dança ter lucros acima da média? Dois problemas: O primeiro a manifesta desigualdade entre sexos. O segundo a ideia de que a mulher é um meio e não um fim, indo contra o principio da dignidade da pessoa humana, que proíbe a instrumentalização do ser humano. Mais, vai contra toda a lógica Kantiana do homem como fim em si mesmo.

E hoje, fiquei ainda mais triste. Porque ainda existia aquele argumento, que separava, ainda, um pouco, o que se passa nas discotecas de uma prostituição escondida. Não se dá dinheiro directamente às mulheres. Faz-se um desconto. Eu retorquia, argumentando que é tudo o mesmo. Mas hoje já nem tenho que argumentar.

Expresso:

“Uma discoteca na Praia da Rocha, em Portimão, vai dar notas de 5 euros a todas as clientes que se apresentarem no estabelecimento aos sábados, numa acção de marketing qualificada como de "combate à crise". “

Vou, pela primeira vez, escrever um palavrão aqui no blogue. Mas não consigo suster.

Que merda vem a ser esta?

Agora dá-se dinheiro às mulheres, e só às mulheres, por irem a uma discoteca. Combate a que crise? Está tudo louco? Será que só eu é que vejo onde isto não é admissível?

Enfim, e o maior jornal do país, dá cobertura a isto, como se fosse um bom sinal. Uma ideia inovadora.

Ontem deambulei com o meu amigo Pedro, por Lisboa, e quando passámos ali na Expo, andámos um bocado pela zona dos bares, antes de irmos ao Casino. Primeiro panfleto: Mulher não paga. Segundo: Mulher não paga e tem bar aberto.

Sinceramente, aconselho os leitores, a perderem uma sexta-feira à noite, e irem a uma qualquer discoteca. Pode ser aquela, a discoteca L. Vão lá, encostem-se e vejam o cenário. De vómito, literalmente.

As ultimas duas vezes que saí, as únicas no ultimo ano talvez. Kapital, Gala da Faculdade de Direito. Preços iguais. Festa da Cerveja, também na FDL. Preços iguais.

Não comparticipo crimes.

1 comentários:

Ana 8 de abril de 2009 às 13:22  

Tiago,

Já falámos muito sobre isto, sabes o que penso.

No entanto, quero dizer que nunca esperaria vir a ler uma notícia destas. Como mulher, isto chega a ser revoltante. Isto, porque nos mete a nós, mulheres, numa posição de "isco", de compra fácil. E eu, por muito que goste de frequentar estabelecimentos nocturnos, nunca me venderia assim. Entrar num bordel ao qual denominam discoteca? Tem uma pista e um bar jeitosos... e depois? Ora venham de lá meninas que nós até vos pagamos, tragam o vosso "traje oficial" da noite e façam aí um desfile de decotes e mini-saias, enquanto esperamos que os homens venham e paguem para vos ver, que assim isto até rende. Por favor, só não vê quem não quer não é.

"(...) numa acção de marketing qualificada como de "combate à crise", dizem eles. Que propósito tão inocente o de ajudar as mulheres na crise. Adoro. É aliciante o facto de pagarem, ainda para mais em tempo de crise, há que confessar. É vê-las a correr para a discoteca de Portimão todas as noites.
Mas lá está, só compactua quem anda às cegas nesta sociedade degradante... e eu ando bem às claras, por isso comigo não iam longe.