Direita e Esquerda

>> domingo, 18 de janeiro de 2009

CDS – Um partido a três tempos.

Em primeiro lugar quero agradecer o simpático convite ao Tiago Mendonça para escrever nesta sua casa, tendo o privilégio do fazer simultaneamente com o meu amigo e também cronista no jornal que dirijo, Pedro Quartin Graça. De facto, existe uma tendência crescente dentro dos aparelhos partidários para que não exista discussão política, principalmente quando falamos de juventudes partidárias, independentemente das cores ou ideologias políticas que representem. Por esse motivo, e sendo este espaço frequentado principalmente por militantes da JSD, louvo esta iniciativa do Tiago.

Para primeiro tema decidi falar um pouco sobre o CDS e o seu congresso, que acabou este domingo. É prática comum criticar o CDS e a liderança, unipessoal é certo, de Paulo Portas. No entanto, o CDS tem inúmeras vantagens em relação aos outros partidos, que têm vindo a ser acentuadas e que se reflectem, como é óbvio, nas sondagens que vieram no final desta semana para a imprensa, publicadas primeiro no Correio da Manhã e depois no Expresso.

Sem querer entrar em argumentações rebuscadas e narrativas politicamente inócuas, aliás bastante comuns na blogosfera, gostava de referir três pontos como justificação para a minha argumentação:

1 – O CDS é o único partido (falo apenas dos cinco grandes) em Portugal que tem um líder culto. Paulo Portas por muito que não gostemos dele – e eu não gosto – foi director do jornal Independente que ainda hoje é uma referência jornalística de em Portugal, escreveu durante muitos anos e fez comentário político e cultural. Trata-se de um homem com vivência urbana, europeia, cosmopolita, com conhecimento literário e artístico – ou seja, tudo aquilo que José Sócrates, Manuela Ferreira Leite, Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa não são. Para mim, antes das habilitações académicas e de todos os outros pormenores, o grau de Cultura de um político é o mais importante e Portas é o único que preenche os mínimos aceitáveis.

2 – Desde que Paulo Portas foi eleito da última vez e que o João Almeida, meu conterrâneo de São João da Madeira, ocupou a chefia da secretaria-geral do partido, ocorreu uma autêntica revolução no que aos aspectos de marketing e comunicação diz respeito. Ora vejamos, o CDS tem o melhor site dos partidos políticos em Portugal, o CDS tem a imagem melhor trabalhada do ponto de vista do marketing e o CDS tem os políticos com melhor imagem na política portuguesa – com a devida excepção ao Hélder Amaral.

3 – O último ponto e provavelmente o mais importante, que vem justificar esta subida nas intenções de voto, é a qualidade parlamentar do CDS. De facto, este partido conta com um bom punhado de parlamentares, bem preparados, com boa presença nos órgãos de comunicação social e com discurso fluente e boa retórica. Exemplos máximos deste fenómeno são Luís Pedro Mota Soares, Nuno Melo e Teresa Caeiro. Reparemos que nos últimos anos o CDS tem sido o partido que mais tem renovado o seu grupo parlamentar, enquanto o PS tem sido o que menos o renova e o que o renova pior.

Voltando ao congresso. Quer-me parecer que tivemos efectivamente três figuras que marcaram o congresso do CDS e são estas três figuras que irão marcar, sem sombra de dúvidas, também o futuro próximo do partido. Indo novamente por pontos:


1 – A primeira figura é sem sombra de dúvidas Paulo Portas. Abandonou o congresso sobre aplausos, sem que ninguém tenha coragem de lhe fazer frente, afirmando que o CDS “não é nem será a muleta de ninguém”, com a sua liderança reforçada dentro do partido mas também nas sondagens, provavelmente fruto do mau momento político do PSD. Resta saber o que vai fazer quanto à política de coligações do partido, nomeadamente para a Câmara Municipal de Lisboa, em que ao dar a mão a Pedro Santana Lopes pode ditar a derrota de António Costa.

2 – A segunda figura é o incontornável Lobo Xavier. Apenas uma semana antes é que confirmou a sua presença no congresso, chegou descontraído e teve sempre simpatia com a comunicação social. Subiu ao púlpito e perguntou a Portas o que todos queriam ter perguntado, mas que por falta de engenho e arte não o tinham feito. Discursou sem a intenção de romper com nada, ajudou a reforçar a liderança de Portas, mas lembrou ao país que “andava por aí”, um pouco ao estilo de Santana, com uma diferença, Lobo Xavier sabe fazer outras coisas na vida para além da política – em suma, não precisa dela para viver.

3 – A terceira e última figura foi Filipe Anacoreta Correia, o mais frontal dos opositores a Paulo Portas e o herdeiro da ideologia, imagem e carisma do antigo CDS, que como o mesmo fez questão de frisar no palanque “é o CDS de Adelino Amaro da Costa” e não o disse, mas talvez também o seja, o de Francisco Lucas Pires. O Filipe Anacoreta Correia dirige o movimento dentro do CDS de nome “Alternativa e Responsabilidade”, de cariz democrata-cristão e que contém algumas das jovens promessas do partido, bem como nomes nossos conhecidos da blogosfera como o Nuno Pombo ou o João Távora, ambos bons companheiros da causa monárquica. Anacoreta Correia conseguiu aplausos de alguns delegados, foi frontal e mostrou que a oposição a Portas está para ficar, ainda que pequena.

Este é o CDS que fica deste congresso, um CDS a três tempos. Em primeiro lugar dos portistas que parecem querer reinar nos próximos anos, depois dos ilustres afastados das lides partidárias como Lobo Xavier e Pires de Lima que parecem não querer voltar tão depressa e por fim dos opositores a Portas que prometem continuar a morder-lhe os calcanhares. No meio disto tudo o CDS cresce e vê o PSD a afundar-se.

João Gomes

Aqui fica, o contributo do João Gomes, representante da Esquerda, neste espaço, que agora dá os primeiros passos.

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