Direita e Esquerda

>> sábado, 17 de janeiro de 2009

É com gosto que inicio a minha participação neste espaço. Eu, que não me revejo no binómio "esquerda - direita" fui encostado à segunda, papel a que me presto, contrariado é certo, com este firme protesto inicial.

Os últimos dias foram particularmente ricos no que ao desenvolvimento da situação política portuguesa diz respeito. Para Sócrates, o tempo de "governação" acabou. Agora que já vestiu a tempo inteiro o fato de Secretário-Geral do PS, o importante é unir o Partido. Para isso desmultiplica-se em contactos, desenterra os fundadores do Serviço Nacional de Saúde, promete o apoio à corrida à Presidência do "poeta de Argel". Receoso de eventuais surpresas vindas do lado do PSD, "autoriza" mesmo a ida de Manuela Ferreira Leite à RTP, mas, de novo, dá-se mal. Já falaremos deste facto um pouco mais adiante. E tudo isto depois de uma entrevista, à medida, que deu à SIC e na qual deixou transparecer "como quem não quer a coisa" o desejo de ver as eleições legislativas serem antecipadas para o mesmo dia das europeias…

Sócrates esteve mal. Como mal está, desde o início, a sua arte de governar este País "à beira mar plantado". O mesmo discurso bafiento, as mesmas lamechas, os mesmos fantasmas. O choradinho da crise que vem acenando desde há meses e para a qual foi o principal obreiro. A falta de ideias para governar um País para além da sua visão economicista das coisas… Quem não se lembra do Engº Sócrates a apontar como solução para a economia portuguesa a direcção do nosso vizinho do lado e repetir três vezes: Espanha, Espanha, Espanha…! Homem de larga visão, sem margem para quaisquer dúvidas, o "nosso" Primeiro-Ministro!

Acresce tiro das legislativas antecipadas saiu-lhe ao lado (até ao momento…) e procura agora, com a ajuda do CDS-PP de Portas, iniciar artificialmente uma crise já no próximo dia 23, novamente com a temática da educação como pano de fundo. A tal crise que lhe permita demitir-se e antecipar eleições…

Falemos agora das duas outras entrevistas. A de Alberto João Jardim a Mário Crespo e a de Manuela Ferreira Leite a Judite de Sousa. A diferença começou logo nos jornalistas, a aptidão para a política de Mário Crespo versus uma Judite de Sousa sem propensão para a "coisa pública", mas isso é matéria de que não nos ocuparemos… Ambos os social-democratas estiveram bem. Jardim, no seu estilo peculiar (a deixa sobre Pedro P. Coelho era desnecessária…), homem com uma visão política a médio e longo prazo de longe superior aos seus companheiros mas parecendo hipotecar, quasi em definitivo, qualquer hipótese de liderar o PSD nacional, Manuela Ferreira Leite também firme e capaz de começar a inverter as sondagens que lhe são desfavoráveis. Mas ao PSD falta ainda recuperar aquilo que os portugueses durante anos lhe confiaram: a credibilidade necessária para governar, algo só possível de alcançar se, com arte e engenho, perceber que as coisas em Portugal mudaram, e muito, nos últimos anos, e que a sociedade portuguesa de hoje exige consensos mais alargados a outros sectores da sociedade nos quais o PSD tem tido dificuldades em penetrar. E se convencer, de vez, que as lógicas de Bloco Central, nos negócios ou fora deles, comprometem definitivamente qualquer imagem positiva que os Portugueses posam ter de um Partido com aspirações de ser, de novo, alternativa de Poder.

Pedro Quartin Graça

3 comentários:

Anónimo 17 de janeiro de 2009 às 23:27  

Duas pequenas gralhas de que me penitencio, uma delas grave: possam é com 2 "esses", naturalmente.

Pedro QG

Tiago Mendonça 18 de janeiro de 2009 às 00:08  

Um grande texto, de uma personalidade que prestigia o Blogue, mas muito mais do que isso, prestigia o Parlamento e a vida política em Portugal.

Tiago Mendonça 18 de janeiro de 2009 às 00:13  

Aproveito, e anuncio, que este Sábado foi batido o recorde de páginas vistas (140)e de returning visitors - 18. 30 pessoas diferentes visitaram o espaço hoje. De dia para dia, são batidos recordes, que comprovam o sucesso da "revolução Laranja Choque".

Amanhã não percam, o texto do João Gomes, na segunda edição do Direita e Esquerda, e o primeiro texto, do muito anunciado dossier loures 2009.