Direita e Esquerda, por João Gomes

>> segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Promiscuidades

A política pode ser encarada de duas formas, enquanto meio de enriquecimento pessoal, quase profissional, ainda que legítimo, em que uma pessoa é remunerada pela sua profissão, que se transforma em profissional da política. A segunda forma de encararmos o exercício da política é enquanto meio de prestação à sociedade, à parte da profissão que escolhemos para a nossa vida. Durante muito tempo encarei a política na primeira das vertentes, tentando realizar a primeira das equações. A pouco e pouco fui-me apercebendo que o profissional da política acarreta consigo vários riscos, que facilmente podem ser transformados em problemas.

Os escândalos que têm vindo a público nos últimos meses, envolvendo os políticos e uma pressuposta promiscuidade com o sector financeiro, vêm demonstrar que o exercício da política enquanto única profissão pode ser maléfico. O Miguel Esteves Cardoso, quando no final da década de oitenta se candidatou ao Parlamento Europeu, afirmava que os políticos portugueses eram os mais “saloios” e “parolos” da Europa. Este cenário era previsível que fosse transformado ao longo dos anos, mas acontece que agora não só temos dos políticos menos cultos como também começamos a ter dos mais corruptos. Enquanto que há dez ou cinco anos ouvíamos falar apenas da “pequena” corrupção nas autarquias locais, vemos que a mesma agora também já se estendeu ao governo e restantes órgãos de soberania.

Há duas explicações óbvias para a política atrair, na esmagadora maioria das vezes, maus génios. A primeira é a política ser uma profissão extremamente mal paga, o que potencia a corrupção e faz com que os bons profissionais não se atraiam por ela – em suma, os que vão para a política, ou que pelo menos se dedicam à mesma com maior profissionalismo, são aqueles que nunca conseguiram fazer vingar o seu mérito em outros sectores profissionais. A segunda explicação é o facto de desde há muito tempo, ou melhor desde a geração de Mário Soares, Sá Carneiro, Freitas do Amaral, Francisco Lucas Pires, entre outros, a política estar entregue, como aliás já referi, a pessoas incultas – na verdadeira e mais preocupante acepção do termo.

Soluções? Em primeiro lugar temos que aumentar os patamares de exigência do povo português, não só quanto aos políticos, mas quanto a tudo, em suma, temos que ser mais cultos, se quisermos, na vertente mais snobe do termo, temos que ter “bom gosto”. Se isto não acontecer continuaremos nos próximos anos a ser o país dos maus políticos, dos cantores pimba e da literatura light best-seller. A segunda solução é mais simples do que parece, precisamos de refundar o sistema político, temos que regenerar a democracia. Precisamos de uma nova geração e de novos políticos. Enquanto isso seremos o maravilhoso país da promiscuidade entre a política e as finanças.

João Gomes

0 comentários: