Derby, por Jorge Batista e Pedro Correia

>> sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

1. Consideram que a verdade desportiva do campeonato está em causa, após as recorrentes más arbitragens, jornada após jornada?

Pedro – Parece-me que o sistema de arbitragem português vem desenhando a sua própria destruição. As declarações do Sr. Vítor Pereira apenas revelam que a incompetência vai para além dos relvados. Jornada após jornada erros clamorosos que culminam não no de Roubo de Igreja, mas no Roubo do Estádio Axa. Mais uma vez digo que o futuro do futebol português passa pela inclusão dos 3 grandes num campeonato Ibérico e pela criação de uma liga regional.

Jorge – Não só a verdade desportiva do campeonato como a dignidade e integridade de todos os intervenientes no nosso futebol. Vítor Pereira apenas tem razão numa coisa: as pessoas cada vez menos têm vontade de gastar dezenas de euros para ver uma partida de futebol completamente deturpada e manipulada pela má arbitragem, pela incompetência dos árbitros e seus assistentes, pela pouca eficiência do sistema de nomeações em si, tudo. Pode parecer ridícula ou extremista essa tua previsão, mas a verdade é que o resultado da incompetência que inunda o futebol português pode ter consequências ainda mais obscuras.

Pedro – Acabo de saber também que o Katsouranis será suspenso por um jogo por afirmação difamatória. Enfim, quando não somos capazes de governar a nossa casa, então que os outros o façam por nós.


2. Como comentam a disparidade existente na reacção de Jorge Jesus no rescaldo do jogo com o Porto, relativamente ao jogo com o Benfica?

Jorge – Confesso que não me tinha apercebido de tal incoerência por parte de Jorge Jesus, treinador que até respeitava, até ter visto o teu post aqui no Laranja Choque. Não há grandes comentários a fazer, é no mínimo estranha essa mudança de atitude num espaço de tempo tão pequeno... talvez já estivesse sob o efeito de medicamentos digestivos.

Pedro – Em primeiro lugar não interpreto isto como uma coincidência, muito menos como algo involuntário. Todos conhecemos a relação de proximidade entre os dois presidentes e de um modo geral, dos dois clubes. Isso reflecte-se na constante troca de jogadores entre os dois plantéis. É perfeitamente explicável Sr. Jorge Jesus.

3. Nesta última jornada, partilham da opinião de alguma imprensa de que o Sporting terá também sido beneficiado?

Pedro – Penalidade clara cometida pelo Rui Patrício. Influência no resultado. Subtracção da verdade desportiva. Isto é claro.

Jorge – Permite-me discordar da tua visão tão directa dos acontecimentos. Há erros e erros, e só me parece haver subtracção da verdade desportiva quando os mesmos são recorrentes durante o jogo ou quando se sabe com toda a certeza que esse lance ditaria um golo e influenciaria o resultado – como um golo validade em claro fora de jogo. Um lance duvidoso na área é normal em Portugal e em qualquer lado do Mundo, não é por aí que a arbitragem é fraquíssima ou que um clube é beneficiado.

Pedro – Digo subtracção na verdade desportiva pela influência directa no resultado. Mas estas situações têm carácter recorrente, sem dúvida.


4. Vítor Pereira tem condições para continuar à frente da Comissão de Arbitragem?

Jorge – Tal como defendi na semana passada, o timing das declarações de Vítor Pereira e sobretudo o seu conteúdo, são reveladoras de uma falta de seriedade e competência demasiado grandes para que o mesmo possa continuar a exercer o seu cargo com toda a credibilidade que necessitaria. Num momento como este, a sua demissão era talvez um ponto de viragem e consequente salvação da arbitragem nacional.

Pedro – Está tudo dito, se não foi competente enquanto árbitro porque o será agora?


5. Qual é o vosso comentário às duras criticas que Quique proferiu, primeiro acerca de Balboa, e agora relativamente a Reyes?

Pedro – Reyes é um daqueles jogadores que, ao contrário do que o Sr. Vítor Pereira tece, nos faz realmente ir ao futebol. Vamos ser claros, tem condições para produzir muito mais, trata-se um jogador de top Mundial. No entanto cingindo-nos nós ao contexto do futebol do Benfica não compreendo as palavras de Quique Flores, pelo menos no tom em que foram proferidas. Reyes pode fazer mais mas é na verdade o jogador mais valioso da liga segundo Abola. No entanto não será com este tipo de declarações publicas que se fará com que melhore a sua prestação.

Jorge – Concordo plenamente contigo Pedro. Reyes é sem dúvida um jogador fantástico e que confere uma lufada de ar fresco ao nosso futebol por vezes pobre. Foi considerado o jogador mais valioso em termos de lances de golo criados como disseste, mas não tem sido muito regular... talvez tal como a maioria da equipa do Benfica. Desta forma, mesmo respeitando a opinião e método de Quique Flores, não acho profissional e ético um treinador vir tecer duras tão críticas e num tom tão intolerante na comunicação social. Se tem algo a dizer aos jogadores, que o diga no balneário e directamente ao mesmo, mais como na metodologia de Paulo Bento ou José Mourinho – a imprensa saberá quando o treinador está insatisfeito com o jogador quando o colocar no banco de suplentes ou não o convocar várias vezes.


6. Quem tem razão no diferendo Belenenses-Guimarães, sobre a interpretação dos regulamentos da Taça da Liga?

Jorge – Que grande trapalhada se gerou com uma falha tão irresponsável e invulgar. Deve ser aplicado o regulamento e, caso a intenção não fosse aplicar essa regra como já percebemos que era o caso, que se rectifique para o ano. Boa sorte ao Belenenses, pelo menos que as equipas finalistas salvem a honra desta taça já tão pouco dignificada.

Pedro – Falha grave do jurista da federação, o Belenenses deverá jogar com o Benfica. O goal average aplicava-se na década de 80, e é isso mesmo, média de golos. É objectivo.

7. Acreditam que Portugal ainda vai jogar o Mundial 2010 na África do Sul?

Pedro – Sou optimista por natureza, esperemos que sim. Racionalmente, aproxima-se o jogo que poderá ditar o futuro das nossas aspirações, o jogo frente à Suécia, e aí teremos obrigatoriamente que vencer.

Jorge – Não consigo ser assim tão optimista como tu, sobretudo dadas as condições em torno da nossa seleção e seleccionador. No entanto, todos devemos exigir convictamente o apuramento. Não há desculpas. Temos uma das melhores seleções do mundo e seria escandaloso e humilhante não marcarmos presença no Mundial na África do Sul. Nesse caso, duvido que Queirós alguma vez mais terá credibilidade como treinador e que se deva remeter eternamente para o cargo de treinador-adjunto... sim, acredito que ele é o principal culpado da situação de aperto da nossa seleção. Com o talento dos nossos jogadores e alguma sorte à mistura, estaremos no Mundial.

Pedro – Não há margem para falhas, concordo. Queirós joga o seu futuro na selecção e o seu futuro como treinador.



8. O Benfica faz bem, no caso de se decidir pela venda de Cardozo?

Jorge – Considero Cardozo um excelente ponta-de-lança, no lote dos melhores da liga portuguesa a par de Suazo, Lisando Lopez ou Liedson. No entanto, já foi visto que no sistema do Benfica não consegue encontrar o seu espaço, simplesmente não encaixa. Este facto é preocupante para o Benfica devido ao enorme investimento que realizou neste jogador e, sobretudo, devido ao potencial que este activo teria se estivesse a ser aproveitado. Se Quique conseguisse encontrar uma solução óptima (o que acho díficil infelizmente para o paraguaio e para o Benfica, felizmente para os rivais), este jogador traria grandes alegrias aos seus adeptos, marcaria grandes golos como já fez, valorizaria no mercado internacional e poderia ainda ser um grande negócio para o Benfica a médio-longo prazo. Talvez com a saída de Suazo no final da época, assim como a colocação de avançados como Makukula, volte a encontrar o seu espaço e concretizar essa realidade, por certo a pretendida pela maioria dos benfiquistas.

Pedro – Sou um grande admirador das qualidades do Cardozo. Para mim um ponta de lança de top mas que terá necessariamente que ter um tipo de jogo ajustado a si; como tinha Luca Toni na Fiorentina ou agora no Bayern. Tacticamente tanto o futebol Alemão como Italiano têm uma cultura de ponta de lança, o que não acontece no campeonato português onde prolifera sobretudo o 4-3-3. Acho que deveria ser vendido com o devido aproveitamento do encaixe financeiro.

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