O paradigma do Homem Moderno

>> quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Para quem tenha estado atento aos noticiários nos últimos dois meses, o mundo parece estar a enlouquecer. Uma crise financeira, prestes a passar para a esfera económica, com a falência de grandes grupos internacionais e intervenção estatal em proporções nunca antes vistas (ainda por revelar está a sua eficiência); greves e demais formas de protesto contra um sem-número de políticas adoptadas pelo nosso Governo eleito por maioria absoluta em 2005; um grande número de famílias portuguesas, já antes endividadas, encontra-se actualmente numa situação de risco praticamente insustentável. Sob praticamente todos os pontos de vista, aquilo a que poderíamos o “cidadão comum” encontra-se em estado de sítio.

Perante estas circunstâncias, aumenta consideravelmente a propensão das pessoas para se virarem para algo que lhes prometa uma salvação rápida, uma garantia de que as suas vidas irão melhorar se se sujeitarem a determinada linha programática ou ideológica – o que, do meu ponto de vista, é altamente vicioso para a nossa democracia, visto que não só aumenta a radicalização do eleitorado (tanto para a esquerda como para a direita), mas também reduz a razoabilidade e a capacidade de discernimento de alguns dos nossos concidadãos, levando-os a tomar medidas que, num cenário não tão drástico, certamente não seriam tomadas ou mesmo consideradas.

Contudo, constatamos de igual modo que, em tempos negros como este, existem breves momentos em que podemos contemplar pequenos pontos de luz no horizonte: Barack Obama, vencendo o preconceito e o status quo, foi eleito Presidente dos EUA; a cooperação a nível europeu e até mesmo a nível mundial parece estar a aumentar, à medida que os líderes das diferentes potências se juntam periodicamente para estabelecer soluções conjuntas para a crise; uma nova ordem económica mundial promete (mais uma vez, falta saber como se sairá) reestabelecer a segurança e a confiança nos mercados internacionais.
Não creio que se deva acreditar cegamente nesta liderança aparentemente coesa e na mudança que alguns anunciam ser completamente pela positiva divulgadas pelos media – isso seria, em todo o caso, tão prejudicial para o tecido social português como aceitar o extremismo como solução; acredito sim que, em tempos como estes, todo o cidadão consciente dos seus direitos e deveres deve, acima de tudo, manter o seu espírito crítico e não desprezar a sua intervenção cívica, pois uma maior diversidade de ideias e o debate das mesmas só poderá resultar, em última análise, na formação de uma verdadeira unidade nacional, constituída sobre os alicerces que são os valores que nos unem. Só deste modo poderemos conciliar a fé nos nossos companheiros e líderes na estrada da vida (cujo valor não deve ser desprezado para a consecução dos objectivos sociais e económicos que, imperiosamente, devem ser alcançados) com as nossas aspirações individuais, de modo a alcançarmos, de forma íntegra, o grande objectivo humano: a felicidade, na paz e na justiça.

É este o paradigma do Homem moderno: um paradoxo na busca constante do equilíbrio.

Diogo Nogueira Leite