Greve dos Enfermeiros

>> sábado, 30 de janeiro de 2010

As dissonâncias sectoriais começam cedo para o executivo de José Sócrates. Após se ter conseguido o importante acordo com os professores, os enfermeiros saiem à rua, exigindo melhores condições de trabalho.

Há pouco, falava com uma amiga, estudante de Enfermagem, e referia-lhe que acho que acho estão a ser tocados vários pontos importantes, como seja, por exemplo, o problema do outsourcing, que remete enfermeiros para condições de precariedade muito grandes, auferindo salários baixíssimos e sem qualquer perspectiva de estabilidade laboral.

Outro problema, continua a ser a escassez de enfermeiros nos centros de saúde, faltando claramente enfermeiros numa primeira linha de proximidade, sendo apenas confinados aos grandes hospitais, existindo lacunas importantes, nos centros de saúde, que normalmente estão com uma lotação altíssima e incapazes de oferecer condições de atendimento aos utentes com a eficiência que se pretende.

Ainda, quanto a mim, existe um problema que se coloca com a questão dos turnos duplos, isto é, a possibilidade que um enfermeiro tem, de fazer dois turnos no mesmo dia, ou seja, completar 16 horas de trabalho, desde que as mesmas sejam dispersas entre o sector público e o sector privado, pelo menos, segundo as informações que a referida estudante me prestou. Pergunto, que segurança oferece um enfermeiro, que por muita competência que tenha, esteja a trabalhar há 12 ou 13 horas seguidas? Não nos podemos esquecer, que estamos em presença de uma profissão extraordinariamente importante, onde o erro pode ser fatal e onde as tarefas que são executadas, podem ser tecnicamente fáceis mas implicam uma dose de responsabilidade muito grande.

Por outro lado, também ouvi, falar-se em aumentos na casa dos 400 euros, não sei se de fonte oficial. E este dado, é que tem “estragado” o ramalhete, sendo hoje, num programa televisivo, este pedido muito criticado, por resultar, de uma alegada insensibilidade para a crise mundial que também marca presença no nosso país. De facto, é muito complicado pensar-se em aumentos dessa ordem, e é um problema que afecta imensas profissões. Penso num advogado, que em inicio de carreira, pode ganhar 1200 ou 1300 euros, trabalhando muito mais que 12 horas diárias. Penso num licenciado em economia, um dos melhores alunos do curso, que com sorte, poderá trazer para casa 1200 ou 1300 euros, numa grande multinacional. Penso num assistente de uma faculdade pública, que traz para casa pouco mais que 1000 euros. Penso num Jornalista, que num regime de isenção de horário, de quase total disponibilidade, e sem fins-de-semana, traz para casa cerca de 1000 euros. Já se disse que esta geração, é a geração dos 1000 euros. Em Direito, por exemplo, existem muitos licenciados que simplesmente não têm emprego, e apenas aqueles que, com uma boa média e um mestrado conseguido conseguem um emprego onde terão que trabalhar horas a fio para ganhar esse valor.

Será complicadíssimo no futuro assegurar-se quaisquer aumentos. Este ano, os salários da função pública irão aumentar na mesma percentagem da inflação, isto é, não existirão aumentos reais. O desemprego sobe em flecha, o Ministro das Finanças diz-se surpreendido com um défice acima de 9% (lembram-se do que se dizia da possibilidade, nos Governos de Durão Barroso e Santana Lopes poder subir acima de 3%?). Enfim, não me irei desviar do objecto do texto, e guardarei as considerações económicas e financeiras, para uma outra ocasião.

Não havendo uma solução para o assunto, o caminho só pode passar, por agora, por uma cada vez maior especialização e investimento em capital humano, para que sejamos mais competitivos interna e externamente, uma redução drástica dos cursos com menor empregabilidade, uma melhor adequação do Ensino Secundário com o Ensino Superior. Em termos de política financeira, o problema resolve-se cortando-se na despesa, já não é possível continuar a resolve-lo pelo lado da receita, já que Portugal suporta uma carga fiscal altíssima e não se pode endividar mais.

Sobre, o problema concreto dos enfermeiros, acho que os problemas de outsourcing, dos turnos duplos, da precariedade de algumas condições de trabalho devem ser solucionados. Quanto aos salários, já era positivo não descer. Sinais positivos, para uma boa adequação dos cursos de enfermagem à prática laboral em causa, que permitem que o recém-licenciado entre no mercado de trabalho com a experiência necessária para começar desde logo a produzir com eficiência e autonomia.

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