Na opinião de David da Silva*

>> quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O que está em Jogo em Copenhaga

No passado dia 7 de Dezembro centenas de líderes mundiais reuniram-se em Copenhaga para dar inicio á cimeira do Clima, que decorrerá até dia 18. As expectativas são enormes na 15º reunião das partes, onde o futuro das políticas de combate às alterações climáticas joga-se em terreno muito instável. São múltiplas as variáveis em cima da mesa.

Primeiro, a própria ciência das Alterações climáticas, está, supostamente, em dúvida. Tudo isto devido ao agora muito mediático Climategate. Este caso, que decorreu ainda há poucos dias (que conveniente ser mesmo antes de Copenhaga não é verdade?) consiste nalguns emails de um dos principais investigadores em Alterações Climáticas que, ilegalmente, foram divulgados e que continham, supostamente, informação de que o autor estaria a falsificar dados de modo a disfarçar uma descida das temperaturas médias globais…. Os cépticos saltaram de alegria quando souberam disto.

O grave problema com esta teoria da conspiração é, como já foi dito pela ONU e pela restante comunidade científica, que a realidade do Aquecimento Global e das consequentes Alterações Climáticas, não se baseiam numa única medição, nem num só investigador, nem num só gráfico ou numa só teoria. Muito pelo contrário. O aquecimento global já foi provado por milhares de medições, por investigações levadas a cabo por centenas de milhares de investigadores em centros de investigação espalhados pelo mundo inteiro! Sem esquecer as correlações óbvias com o aumento de CO2, com fenómenos climáticos irregulares e um sistemático e muito brusco aumento da temperatura média global. Só em Portugal, a temperatura média já aumentou em 1,2 graus desde 1930, o dobro do que seria normal! Isto acrescido ao cada vez maior número de vagas de calor, do aumento da amplitude térmica e do aumento das zonas desertificadas a nível nacional.

É por isto que Copenhaga é tão importante. Não só porque alterará, ou pelo menos tem essa possibilidade, todas as nossas políticas económicas, energéticas e Ambientais, mas porque tem a possibilidade de evitar que o mundo caminhe para um futuro de catástrofe em vez de um de progresso.

Mas afinal, o que é que é preciso para que Copenhaga corra bem? Antes de mais tomadas de posições e decisões fortes. Em particular por parte de quatro pessoas. Obama, que já anunciou que quer estabelecer a meta de redução de 17% de emissões de CO2 em relação aos níveis de 2005, pelo Primeiro-Ministro Chinês, visto que a China é o principal poluidor á escala mundial, pelo primeiro-ministro Indiano, um dos países com maior aumento populacional que em breve se tornará um dos maiores poluidores, e do Presidente Lula da Silva, pois o Brasil como crescente super-potência será um dos principais players a nível de uma revolução energética mundial. É preciso ainda que a EU lidere, como tem feito, a luta contra as alterações climáticas, tentando com que o seu pacote climático seja aplicado a uma escala mundial.

Outras das polémicas será o papel dos países em Desenvolvimento, cujo tratamento era diferenciado no último protocolo (no de Quioto as politicas para os países industrializados e para os em desenvolvimento apareciam em anexos diferentes). É de notar o caso de África, o continente que mais sofrerá (como já começa a sofrer, caso da recente epidemia de Dengue em Cabo Verde) com as alterações climáticas e o que menos contribui para o problema, que já exigiu fundos e linhas de crédito para estratégias de desenvolvimento sustentável e investimento por parte dos países desenvolvidos em energias renováveis em solo africano.

Mas a principal questão que se jogará em Copenhaga será indubitavelmente a questão económica. Os líderes mundiais têm medo de que as politicas de combate às alterações climáticas seja uma barreira ao desenvolvimento económico. Mas desta vez, ao contrário de Quioto, existe algo para opor esta teoria, o relatório Stern. Neste documento sobre a economia das alterações climáticas o economista Nicholas Stern prova que o custo da inacção é em larga escala superior ao da acção, argumentando que nos custaria cerca de 2% do PIB mundial para aplicar as politicas necessárias para parar o Aquecimento Global, mas que nos custaria cerca de 20% do PIB mundial as politicas de remediação dos danos e efeitos das Alterações climáticas, em larga medida associadas a catástrofes naturais, como furacões, a um maior número de secas, a um maior número de casos de doenças tropicais e á consequente crise de refugiados climáticos (estima-se que serão cerca de 150 milhões). A opor-se a esta teoria estão os países exportadores de petróleo, como seria de esperar.

Muito mais se jogará em Copenhaga mas estes serão os factores principais de discussão. Mas mais que tudo, é o destino do Mundo que se joga nesta cimeira, é o seu futuro que se decide. Os interesses em que Copenhaga corra mal são muitos, a quantidade de dinheiro que será contabilizada é astronómica mas as decisões serão, em si, igualmente históricas. Ao fim e ao cabo, desta cimeira podem sair um de dois cenários: ou sairá uma decisão fachada, que em nada ajudará a combater as alterações climáticas, ou então pela primeira vez na História todos os principais países do mundo colocarão os interesses do futuro á frente dos interesses do presente, pela primeira vez um pacto a nível global, que afecte todos os cidadãos de todos os países, será assinado. Esperemos, para o bem da Terra que seja o segundo. Esperemos que, para o bem de nós todos, que seja o último caso. A ver vamos…….

*Vice-Presidente da Comissão Política da JSD/Oeiras, uma das vozes mais reputadas da JSD no que a política ambiental diz respeito. Acrescento: Militante empenhado em Ganhar uma Geração!

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