Dia B, por Bruno Antunes

>> segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Os Minaretes.

No meu blogue já versei sobre este tema, mas creio que uma análise um todo nada mais aprofundada não faz mal a ninguém.

Na Suíça, país que constantemente opta pelo alheamento, pela não intervenção, pela não opinião, no fundo, pela neutralidade, tomou-se uma decisão extremíssima, e de extrema gravidade. Aprovou-se por via de um referendo a proibição de construção de minaretes que são as torres dos templos muçulmanos.

Desde logo, fico pasmado com a possibilidade de apenas 100000 assinaturas conseguirem provocar um referendo, algo impensável em Portugal.

Depois pergunto-me como pode tal questão ser colocada, quando se trata de uma maioria a decidir o futuro de uma minoria, e quando a pergunta a ser afirmativamente respondida comporta uma clara inconstitucionalidade, pelo menos em Portugal onde na sua Constituição, o Artigo 41º postula a defesa da liberdade de religião e de culto.
Porém, não é só na nossa Lei Fundamental que esta questão deveria suscitar uma clara e inconstitucionalidade.

Vide a Constituição Suíça. Logo no Artigo 8º nº2 se infere que ninguém deve ser discriminado em razão da sua convicção religiosa. Este princípio é, no Artigo 15º, concretizado quando se refere que todos têm o direito à liberdade de religião.
Se isto não é totalmente incompatível com a pergunta colocada no referendo, então o que será?

Gravíssimo também é, para além da pergunta, a resposta maioritária que lhe foi dada. Cerca de 57% dos suíços respondeu afirmativamente muito por influência das populações mais rurais onde há menos imigrantes e onde necessariamente as pessoas menos convivem com eles.

Esta proibição para além de violadora de princípios basilares (de que Portugal não tem exclusividade pois são basilares em grande parte do Mundo) poderá acarretar consequências gravíssimas.

Há cerca de 70 anos também outros crentes de outra religião foram perseguidos, tendo tudo começado com o encerramento dos seus locais de culto, continuando posteriormente com as restrições dramáticas que lhes impuseram e que conduziram à morte de cerca de 6 milhões. Falo naturalmente dos judeus. Espero que a história não se repita.

Depois, nota-se a total insensibilidade e indiferença perante aqueles que apesar de viverem em país diferente do seu (ou não, já há suíços muçulmanos) querem continuar a professar a sua religião. Incrível como nem sequer o raciocínio algo egoísta do “não faças aos outros o que não queres que façam a ti” passou pela cabeça da maioria dos suíços.

Se a ideia foi impedir que os muçulmanos andassem a disparar das torres contra as pessoas por aquele ser um lugar privilegiado para isso, então daqui a uns tempos aproveitam a ideia e ainda destroem os prédios na Suíça com mais de 3 andares. Pode ser perigoso…Ridículo…

Deixando-me de ironias, grave também, foi a total falta de percepção por parte desta gente, dos efeitos de ricochete que esta proibição pode ter. A ver vamos, o tempo o dirá.

Importa ainda uma referência à importância que foi dada a este tema nos órgãos de comunicação social. Foi muito parca. Se a caricatura de Maomé (sobre a qual tenho entendimento substancialmente diferente deste caso) mereceu tantas parangonas nos media também por culpa dos desacatos, esta questão dos minaretes foi parcamente abordada.

Aliás, as reacções dos muçulmanos foram muito mais audíveis e visíveis daquela vez (da caricatura) que desta, sendo que esta foi muito mais gravosa que a anterior.
Irei terminar este post do mesmo modo que terminei o que já havia escrito no um blogue do caraças.

Tenho receio que não haja bom senso. Tenho confiança, contudo, que se ponha travão nisto.

Bruno Antunes.

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