Arrogância. Será mesmo?

>> quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Quando pensamos no adjectivo arrogante, imediatamente lhe atribuímos uma conotação negativa. Por outro lado, existem várias personalidades, que a generalidade das pessoas apreciam, e a que lhes é atribuída essa característica, sendo a mesma apelidada, nesses casos, como uma “boa arrogância”, numa contradição de ideias.

Pensemos em José Mourinho, ídolo de tantos. Pensemos no primeiro-ministro José Sócrates, apreciado por alguns portugueses. Pensemos nos júris do Programa Ídolos, em particular, no Pedro, apelidados de arrogantes mas que nos provocam tantas gargalhadas. A pergunta é: Serão mesmo arrogantes ou estamos a falar de coisas diferentes?

Quanto a mim cumpre distinguir. Não entre uma boa e uma má arrogância, mas entre as causas dessa arrogância e, muitas vezes, os objectivos dessa arrogância. Excluindo, o caso do primeiro-ministro, já que é uma questão controvertida saber se Sócrates é arrogante ou meramente uma pessoa com grande determinação, pensemos nos outros dois casos. Quanto aos Ídolos, é evidente que não existe uma verdadeira arrogância mas uma mera modelação ao conceito do concurso. Também no caso de Mourinho, é uma mera estratégia, uma mera táctica de sair por cima dos jogos psicológicos antes dos desafios e uma forma de motivação dos seus jogadores. Mais, é o alimentar da Marca “Mourinho”. São pessoas que adoptam determinada postura pública, com objectivos bem definidos. Por exemplo, quando um político afirma que com toda a certeza vai ganhar as eleições, isso não traduz arrogância, mas antes confiança no seu projecto politico e uma forma de contagiar os seus apoiantes à vitória final.

A verdadeira arrogância também não é daqueles que admitem que são bons nesta e naquela matéria. Prefiro isso a falsas modéstias, isso sim bastante irritante. Não considero que uma pessoa por dizer sou um bom aluno, sou um bom jogador ou sou um bom cantor esteja a ser arrogante. Existem dados objectivos que podem ou não comprovar a veracidade dessas afirmações. São constatações de facto. E essas pessoas merecem o elogio por não adoptarem o discurso do “não sou nada bom” com o único intuito de todos dizerem “claro que és”.

A verdadeira arrogância, intrinsecamente má, é aquela que provêm de disfunções de raciocínio, isto é, aquela arrogância que assistimos em certas pessoas que quando observamos a fundo a sua vida, as suas acções, não podiam, nem por um minuto se colocarem nessa posição arrogante. Por exemplo, todas aquelas pessoas, que em função da condição socioeconómica simplesmente se acham melhores e discriminam os que menos podem. Ou pessoas excessivamente mimadas e elogiadas que se tornam absolutamente insuportáveis e completamente incapazes de encaixar uma critica ou uma realidade mais adversa.

Esta “má arrogância” como alguns lhe chamam normalmente aparece associada a outras características como um orgulho sem limites e um egoísmo grande. Todos estes factores transformam-se num melting pot muitíssimo desagradável. As pessoas vivem numa esquizofrenia permanente, pois têm o seu mundo onde são as melhores ou os melhores e não conseguem perspectivar o outro mundo.

Conheço imensas pessoas a quem lhes é atribuído o rótulo de arrogante. Mas, felizmente, apenas num ou dois casos estamos perante a má arrogância. Embora nesses casos, se atinja dimensões que tornam insuportável a interacção.

Última nota, para chamar à colação aquilo que já aqui escrevi há uns meses, aquela minha ideia de que os conceitos são circulares, isto é, o conceito máximo de determinada realidade é o inicio da realidade oposta, por exemplo, o máximo de liberdade corresponde a uma ditadura. Também aqui, uma pessoa excessivamente arrogante, pode, num ápice, passar para um estado depressivo, basta que para isso, seja aberta uma fresta do mundo exterior que, permanentemente, tende a não querer ver.

3 comentários:

Ana Suwa 11 de dezembro de 2009 às 22:03  

Tiago,

A arrogância pode não ser uma característica inerente da pessoa. Eu diria que a arrogância é algo como um mecanismo de defesa (uma espécie de reacção instintiva), que o homem desenvolve após ter vivido algum período marcante de incompreensão e desamor. Ninguém levanta um dia da cama e diz "ah, a partir de hoje decidi que vou ser arrogante!". Penso que ainda que condenável, a arrogância é perfeitamente legítima e necessária, pelo menos, uma vez na vida, nalguma circunstância. A arrogância pode ser uma forma da pessoa impor o seu " brilho" quando outras pessoas tentam "apagá-lo". Será que é arrogância? É. Mas não por ser característico, não por opção, mas sim por reacção. Pensa nisso :)

PS: As tuas reflexões são sempre um mimo. Acho sublime a maneira original como dissertas sobre determinado tema e lhe dás aquele toque muito pessoal :)

Ana Suwa 11 de dezembro de 2009 às 22:13  

Tocas no Mourinho e eu lembro-me deste vídeo que já te tinha mostrado:

http://www.youtube.com/watch?v=eVc4587ywB4

Quem proclama a língua de Camões desta maneira merece ser o ídolo de muita gente! Ehehe.

Tiago Mendonça 14 de dezembro de 2009 às 14:23  

Cara Ana,

A arrogância de que falas, apelidada de arrogância “menos má”, pode, efectivamente, ser desenvolvida ao longo dos tempos, quase sempre associada, ao facto da pessoa em causa conquistar uma ou outra coisa. Mas nem sempre é assim, e aliás, quando é assim, estamos francamente no que se apelida da tal arrogância positiva, se é que a existe. Todos dizemos: O Mourinho é arrogante, mas tem razões para o ser. Mas também é quase unânime: Quando não há nenhuma razão para se o ser e se o é…

A tal arrogância como mecanismo de defesa, não é arrogância. O que se passa, é que, uma pessoa, por exemplo, quando acaba com um namorado/namorada, têm tendência a tomar atitudes mais frias porque quer deixar vincada uma posição. Ou quando um amigo procede de forma incorrecta, mesmo que a vontade seja estar, mesmo que a vontade seja mandar uma mensagem, as respostas saiem meio tortas, naquela situação especial. Duas características essenciais: Ser-se assim com uma pessoa em concreto e durante um período temporal definido.

Como disseste e bem: “Penso que ainda que condenável, a arrogância é perfeitamente legítima e necessária, pelo menos, uma vez na vida, nalguma circunstância.”

Uma vez na vida. Numa determinada circunstância.

E depois, Ana, chamo-te a atenção para o efeito bola de neve. Tu que me entendes, será que a pessoa por ter uma necessidade enorme, exagerada, de impor o seu brilho, de só pensar no seu brilho, nas suas coisas, talvez, por via da pessoa se achar o centro do mundo, emanar um orgulho e um egoísmo absolutamente incríveis, as outras pessoas (será um grupo restrito, às vezes até poderá ser apenas uma pessoa, porque como convirás o mais cómodo é ficar calado e ir aproveitando bons momentos) têm a tendência natural a dizer, sim, “És boa, mas calma contigo”. Isso não é apagar o brilho, pelo contrário é dizer acorda para a vida. E depois tens ai o tal efeito bola de neve. A pessoa tem duas opções: Ou ouve e tenta inverter, ou fica ainda pior. E a outra pessoa reage pior. E por aí fora.

Mas, Ana, também acontece, que uma pessoa consegue parar o ciclo. E dizer, vamos lá então fazer um reset e sermos “amigos”. E aí é que se tira a prova dos nove de se estamos em presença da arrogância, problema patológico grave, ou da tal arrogância defesa, circunstancial. Se a outra pessoa não for um poço de orgulho e egoísmo infundado concerteza que acederá ao período de tréguas. Caso contrário, se a arrogância for de facto intrínseca, o orgulho e o egoísmo falarão mais alto.

Obrigado pelas palavras elogiosas sobre as apreciações que faço sobre alguns temas. São meras reflexões, pequenas opiniões, cujo fundamento, in casu, é empírico e não se baseia em nada mais do que isso. Opiniões, inerentemente subjectivas, e obviamente sujeitas a melhor opinião. Sem arrogâncias :)