Na opinião de Essi Silva

>> terça-feira, 3 de novembro de 2009

Eles falam, falam, falam…mas não fazem nada!

O conceito de cidadania sempre esteve fortemente relacionado com a noção de direitos, especialmente os direitos políticos, que permitem ao indivíduo intervir na direcção do Estado, através da participação de modo directo ou indirecto na formação do governo e na sua administração, seja ao votar, seja ao concorrer a cargo público.
É frequente ouvir-se no café alguém a dizer que não vai votar porque os políticos são todos iguais e que nada vai mudar. Mas então nesse caso para que serve o direito ao voto?

Democracia? Onde?

Mulheres por todo o mundo lutaram pelo direito ao voto, pelo direito à participação cívica e política. Em Portugal, só há 35 anos é que se assiste ao verdadeiro sufrágio universal e democrático. Então porque é que no nosso país a taxa de abstenção é tão elevada?

Associada várias vezes à parca qualidade da nossa classe política, em 30 e tal anos, várias gerações de políticos têm dado às pessoas razões para estarem descontentes. O problema é que enquanto alguns fazem o esforço, que por várias vezes podem implicar problemas de saúde e afins (como foi o caso do meu avô nestas últimas eleições), para irem às urnas expressar o que julgam melhor para o seu país; outros limitam-se às sucessivas reclamações e contágio de pessimismo (sim, considero que o pessimismo é uma epidemia bastante grave no nosso país e que anda a ser curada não com Governos decentes mas com Prozac’s à base de créditos para se poder frequentar o Ensino Superior ou impostos sobre café e refrigerantes).

A democracia depende do demos, do povo. Como podemos nós exercer um poder democrático, reger a sociedade, se o povo, o demos não participa nessa gestão com o poder que lhe dão? Onde está a democracia sem povo, sem cidadão?

Praia ou votar? Estão 40º e umas ondas fantásticas, pensa bem!

Nalguns países, o Direito ao voto é acima de tudo uma obrigação. A prática do voto obrigatório remonta à Grécia Antiga, quando Sólon levou à aprovação uma lei de modo a forçar os cidadãos a escolher um dos partidos, caso não quisessem perder seus direitos de cidadãos.
No Brasil o voto é obrigatório para cidadãos entre os 18 e os 70 anos. Isso leva-me a questionar se um povo que lutou tanto pela democracia tem de ser obrigado a votar de modo a não acabarmos numa ditadura ou numa anarquia.
A meu ver o voto é acima de tudo um dever, um dever de cidadania. Mas antes de partirmos para medidas mais drásticas devemos apostar na educação cívica, que no nosso país é insuficiente e responsável por várias lacunas noutros campos importantes do funcionamento em sociedade.

Ver para crer

Enquanto não houver uma verdadeira identificação com quem nos representa não haverá lugar para a redução da abstenção. A classe política precisa de se renovar, de chegar à humildade e aproximar-se do eleitor e da sua situação. Não são as promessas que nos levam a lado nenhum, é o trabalho e o contacto com as situações reais.
É por isto que defendo os círculos uninominais. As vantagens são múltiplas: o eleitor ao escolher quem o representa, não só conhece o seu comportamento como sabe que representará os seus interesses. Isto evita que sejam os partidos a decidir quem são os amigos de A e B que vão ganhar o chamado “tacho” e a dar ao eleitor maior poder para decidir sobre o seu futuro.
São este tipo de medidas que poderão trazer mais transparência e fé a quem decide votar e depositar a sua vontade num representante.

Talvez a democracia comece verdadeiramente aqui, nas nossas casas, enquanto ensinamos aos nossos amigos, pais, avós, filhos e afins, a importância de pertencer à sociedade e da cidadania (que esta implica direitos e obrigações). Talvez acabe na Assembleia da República, com o nosso vizinho, aquele que fez algo pelos seus na Câmara Municipal, na Liga Portuguesa contra o Cancro ou simplesmente no exercício do seu direito de cidadania.

Nota do Autor do Blogue: Cumpre fazer um agradecimento muito especial à Essi, que assina aqui uma magnifico texto, na senda de grandes reflexões que tem desenvolvido noutros fóruns. É um dos quadros com maior futuro na JSD. Guardem bem este nome. Daqui a uns meses, não muitos, voltaremos a falar, e veremos onde estará a Essi. Esta capacidade de expressão e enorme lucidez na forma como aborda as várias temáticas são um excelente pronúncio de um futuro radioso.

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