Agarrado ao Estudo?

>> segunda-feira, 15 de junho de 2009

Dos muitos cursos que existem em Portugal, penso que é unanimemente reconhecido que os mais trabalhosos são Medicina e Direito. O primeiro, porque, desde logo, exige muito trabalho no Ensino Secundário, já que a sua média de entrada é elevadíssima e inatingível para um aluno que não estude, verdadeiramente, durante o Ensino Secundário. Para além disso os horários não são nada simpáticos e para além da componente prática existe uma difícil componente teórica. O segundo, porque, provavelmente, o volume de páginas a serem lidas em cada cadeira é superior, ao número de páginas que um aluno de 95% dos outros cursos que não direito tem de ler, ao longo de todo o curso.

Por isto, e também pelo fascínio que o curso acarreta, para além do grau de exigência da Faculdade de Direito de Lisboa, em especial, é muito complicado, que o tempo dedicado ao estudo, não configure uma elevadíssima percentagem do tempo total que disponho durante o dia. Mas tudo é gerido.

Alguns colegas, agora com menos intensidade, afirmavam que eu vivia para o curso. Não sendo isso verdade, mais uma vez afianço que à actividade que dedico mais tempo, com grande diferença para qualquer uma outra, é efectivamente ao curso. Mas continuo a dispensar atenção à família e aos amigos, a não recusar um café e uma boa conversa, a ter um blogue onde digo uns disparates de quando em vez, e a tentar, à minha maneira, ser activo na sociedade, através, no momento da JSD. E ainda tenho tempo para o projecto da Tutoria, onde ajudo os alunos do primeiro ano, nas cadeiras de Economia I e Economia II na minha faculdade. E terei ainda, muito em breve, divulgarei, mais três projectos. Nada mau.

Mas, reflecti, e acho que ser agarrado ao estudo e viver em função do curso, é precisamente o que a maioria desses colegas fazem. Eu coordeno tudo. Evidente que, em época de exames, estudo mais horas, e abrando nas outras actividades. Mas a diferença não é abismal. Talvez aloque, 8 ou 9 horas em tempo de aulas, e 10 horas em tempo de exames. A diferença é uma hora, duas no máximo. Direito faz verdadeiramente parte da minha vida, mas não para tudo o resto, porque tenho exames, frequências, orais, melhorias, o que for. Não abdico de nada.

O que esses colegas fazem é não encaixarem direito ao longo do ano, preterindo-o sucessivamente a favor de festas e festinhas, copos e copinhos. Mas depois vivem para o Direito em época de exames. Estudam 14 ou 16 horas diárias, não abandonam o lar, ficam impossíveis de aturar e sempre que se fala em ir beber café, vão afirmando, impossível, isto só depois dos exames. Ou seja, a sua vida, gira em torno da calendarização do curso, abandonando tudo o resto. Aliás, nem podem ter nada em permanência, porque 4 meses por ano, têm de hibernar.

Que o estudo regular, traz, normalmente, melhores resultados, é há muito sabido. Mas quanto a mim é também a melhor forma de “encarar a fera”. Direito tem que ser parte, 365 dias por ano, da nossa vida. Mas é parte. Não pode ser zero durante 265 dias, e ser tudo nos outros 100. A isso chama-se desequilíbrio. Tenho dito.

2 comentários:

Alfredo Fernandes 16 de junho de 2009 às 23:13  

Muito pertinente a tua percepção sobre a gestão que cada estudante faz do seu curso... mas como não poderia deixar de ser, queria partilhar contigo e com todos os leitores do blog algumas ideias...

Disseste que Direito e Medicina são de longe os cursos mais trabalhosos... porque afirmas isto? Pela quantidade de cadeiras? Pelo número de anos?

O que é um curso trabalhoso afinal?


Se compararmos por exemplo um curso de Engenharia, com uma carga horária mais liberal, mas com uma quantidade de suporte teórico enorme, um curso de arquitectura, com a quantidade de projectos, trabalhos, e carga teórica, ou claro, a minha Enfermagem, com um suporte teórico de muito rigor no seu inicio, com épocas de exames preenchidissim e com estágios, que vão ficando maiores e mais trabalhosos, com turnos muitos deles, num processo de avaliação continua em que as vezes n podes pensar sair sabado a noite, porque vais tar a fazer precisamente noite! (digo desde já que é mt giro ver as ressacas do domingo de manhã quando saio e comparar com a minha "Ressaca" de sono XD), não estaremos perante 3 situações diferentes de cursos, cada um à sua maneira, trabalhosos?!

Quis só partilhar esta visão, porque recentemente tenho trabalho com jovens problemáticos, aos quais, por diversos factores relacionados com a sua história de vida, devem muito não à inteligencia, mas exactamente à concentração e capacidade de "serem trabalhosos" e trabalharem em prole de um objectivo académico ou profissional. Para eles uma simples aula de 45 minutos é muito trabalhosa. Isto para mostrar que "trabalhoso" é muito subjectivo.

Também estou a partilhar isto porque nós, jovens estudantes de relativo sucesso académico, independentemente do nosso curso, estamos semrpe a querer mostrar que é muito trabalhoso, o mais trabalhoso até. Não nos detemos nisso, a exigência do curso é uma benção, pois é um sinal de como temos capacidades e competências para trabalhar mediante essas condições.

Até Mais

Alfredo Fernandes

Tiago Mendonça 17 de junho de 2009 às 14:48  

Alfredo,

Tens toda a razão. Já anotei o meu lapso, no post "Para Quando". Engenharia completa, claramente, o grupo de 3 ou 4 cursos mais exigentes.

Mas como afirmaste, e com toda a razão, a exigência também é subjectiva.

Eu em Direito posso ter que estudar muitas horas, mas tenho alguma flexibilidade. Posso dormir de manhã, e estudar tarde e noite, por exemplo. Existe alguma flexibilidade ainda que diminuta. E isso tem que ver com a nossa profissão no futuro. Muito trabalho, mas com alguma flexibilidade. E lido bem com isso.

Enfermagem, por exemplo, tem uma exigência diferente, que passa pelos turnos. Vocês têm que cumprir aquele turno de 8 horas, sem margem para flexibilidade. Também é exigente nesse sentido, e também ai está adequado ao que vos será exigido na vida prática.

Ainda uma palavra para os recém-licenciados de enfermagem que muitas vezes, por questões económicas, são obrigados a fazer turnos duplos, e trabalham 14 ou 16 horas por dia.

A entrada no mercado de trabalho não é facil para ninguém.