Uma conversa interessante

>> sexta-feira, 1 de maio de 2009



Ontem à noite tive uma conversa muito interessante, sobre várias realidades da nossa sociedade.

A degradação dos valores como pano de fundo, passando pela concepção Kantiana de sociedade, a ideia do super-homem germânico de Nietzsche como plataforma ideológica do Nazismo de Hitler, a história constitucional portuguesa, no sentido da sua vertente cíclica, a ideia do alheamento de alguns jovens perante o mundo, a apatia da sociedade perante problemas fundamentais dos nossos dias.

Existem hoje cada vez mais pessoas, que vivem no extremo, vivem de banalidades e futilidades, com total indiferença da família e dos amigos. Pessoas a quem o mundo nada lhes lhe diz.

A instrumentalização do ser humano é hoje cada vez mais evidente. Pessoas utilizadas como isco, como objectos de marketing. A palavra já não interessa. A dignidade, fidelidade e verdade não interessa. A corrupçãozinha está entrenhada.

Sobre tudo isto debati ontem.

E hoje, após um telefonema que sugeria coisas graves, uma outra conversa com um grande amigo meu. Que disse muita coisa, em poucas palavras. Relatou-me uma conversa que ouviu numa paragem de autocarro onde três jovens falavam de que em determinado bar o vodka era fraquinho. E que mais valia terem ido a um supermercado, pois bebiam mais e pagavam menos.

Ora este tipo de conversas são totalmente desadequadas em qualquer idade. Muito menos quando as pessoas têm 22 ou 23 anos. Pessoas a quem o dinheiro não interessa e esbanjam centenas em vodkas. Para algumas pessoas a semana (ou as folgas) giram em torno da bebida e da futilidade. Da piada fácil e da telenovela mexicana num hi5 perto de si. Contribuição para a sociedade? Zero.

E, infelizmente, e é contra isto que todos temos de combater, essas pessoas arrastam outras para essa vida de futilidade e de total alheamento. É triste e tenho muita pena.

A imagem reflecte muito bem o que eu digo. A conhecida personagem da banda desenhada olhando para o mundo, de forma intrigada. Para os mais próximos, a escolha desta personagem de Banda Desenhada, também faz sentido. Para os menos próximos, apelo à reflexão. Vivemos numa enorme crise de valores.

9 comentários:

Ana 1 de maio de 2009 às 23:34  

Tiro o meu humilde chapéu a este post. Parabéns Tiago.

Porque isto na Vida o que conta são as pessoas e há muitas que não deviam fazer parte da Vida de ninguém, por só se saberem auto-destruir e por serem o pedaço de mau caminho para os outros.

Hoje em dia... Tempo de Qualidade de algumas pessoas: 0. É triste.

Tiago Mendonça 2 de maio de 2009 às 00:11  

O mais lamentável é as pessoas não perceberem. É o que me faz mais confusão.

Por vezes, como já tenho dito, podemos errar. Claro. Amanhã eu vou ver o Benfica. Estou consciente que perco duas horas do meu tempo de estudo nisso. Mas estou consciente do facto. E por isso antes e depois do jogo tenho que trabalhar mais para compensar isso.

O que mais custa é as pessoas errarem, 1,2,3,30 vezes é não se aperceberem.

Tibério Dinis 2 de maio de 2009 às 02:06  

pá contribuem em impostos no vodka e cigarros:P Não contribuem grande coisa, mas desde que não chulem o Estado, não me chateio.

Apesar de condenar os que "não contribuem para a cidade", são muito piores os que "lesam a sociedade".

Bom post

Haja Saúde

Tibério Dinis 2 de maio de 2009 às 02:08  

Tiago, pá entre ver o FCP com um pires de tremoços e uma mini bem fresquinha e estudar sucessões, prefiro ver o FCP.

Agora, entre ver o SLB e estudar sucessões, que venha o Código Civil e a calculadora:p

Tiago Mendonça 2 de maio de 2009 às 02:38  

Tibério,

Já nem precisas de ver o FCP. Naqueles jogos mais renhidos, tiram os dois melhores jogadores antes dos 60, e o Porto ganha. É melhor estudares. Ainda que o Maritimo seja das poucas equipas, que não se vende, ao que me parece. Quando assim é...

Quanto à contribuição ao nivel do imposto, é um bom ponto de vista ;)

Agora a sério, não me resigno a assistir a tudo isto. É demasiado escandaloso e está bem próximo do meu nariz. Um simples exercício:Nós pagamos cerca de 20%, em propinas, do custo que temos para o Estado. Ou seja, se pagarmos 1000 euros ao ano, num curso de 4 anos, pagamos 4000€ e o Estado investe em nós próprios 16 mil euros. 16 mil euros investidos é muito dinheiro. É um egoismo tremendo não aproveitarmos essas possibilidades que muitos gostariam de ter para crescermos um pouco. Sermos melhores e mais úteis para a sociedade onde nos inserimos ou deviamos inserir.

Tu, por exemplo, no Inconcreto, óculos azuis e cor-de-rosa à parte, prestas um serviço público à "tua" Ilha. Um espaço informativo-reflexivo ímpar. Retribuis à sociedade o que a sociedade investiu em ti.

Era bom que todos pensassem mais nisso.

Pedro Correia 2 de maio de 2009 às 16:21  

Este é desde já um tema muito apalavrado nas nossas discussões.

Como sabes não gosto de chamar degradação de valores, prefiro circunscrever o fenómeno e categorizá-lo de fragmentação do núcleo familiar. Isto, embora ambas as denominações padeçam do mesmo nome, uma excessiva relatividade e subjectividade


A meu vêr a sociedade não reagiu e tarde em reagir a esta questão. É inevitável que a família perca os seus traços tradicionais, pelo menos que perca a forma como eram mantidos e guardados.

Contudo não julgo que se seja impossível reaver os valores fundamentais que passam, neste caso, essencialmente, pela educação cívica, a educação para a cidadania. Deve de facto existir um esforço de cada agregado familiar para blindar certas inflûencias externas, nefastas, e formar para a vida os filhos. Mas deixo o aprofundar da questão para os psicólogos, apenas fezemos este diagnóstico porque é algo com que vivemos diáriamente.

É por aí que se devem mudar comportamentos, e como sabes desconfio bastante quando se tenta atribuir à escola pública estas tarefas. Acho mesmo imoral.

Desta forma, quando não há a família a proteger cabe-nos a nós amigos, muitas vezes mais velhos, suprir essa ausência, e aconselhar.

Tiago Mendonça 2 de maio de 2009 às 16:31  

Grande comentário Pedro.

Sem dúvida alguma, que o problema começa na família. Mas também, em muitos casos, os pais e as mães são iludidos pela aparente ingenuidade dos filhos.

Ainda há pouco te dizia no MSN, algo sobre isto. Por vezes, os filhos estão a fazer algo sem malicia, e às duas da manhã os pais estão a dizer que é tarde. Outras vezes não aparecem em casa, e não se passa nada.

A familia desabou. Porquê, falar-vos-ei daqui a uns tempos.

Acho que o Estado não podem nem deve fazer-se substituir à Familia, mas pode fazer muitas coisas.

Desde logo impedir que sejam cometidos crimes em quase todas as discotecas do nosso país.

Implementando uma Educação Civica, dada a sério.

Implementando a Educação Sexual e apostando claramente numa educação muito mais vocacionada para a formação de seres humanos sérios e produtivos.

A mim custa-me imenso, que no mesmo país, onde milhões de pessoas tem 250 euros por mês para viver e em que desses 250 euros 200 são para medicamentos, existam meninas, que gastem centenas e centenas de euros por mês em futilidades.

Uma mensagem de esperança: A personagem da banda desenhada, péssima influência, representativa de tudo o que de mal observo em parte da nossa juventude, é isso mesmo. Uma parte. Uma pequena parte. Acredito que a maioria das pessoas sejam diferentes. Existem muitos jovens de grande qualidade.

Espero que os fenómenos de "meninas" de carros verdes fluorescentes que não sabem o nome do primeiro ministro russo mas consomem alarvemente a bebida tradicional daquele país, esteja, efectivamente, como dizes, circunscrito.

E sim, Pedro, cabe a nós, amigos fazer tudo o que podemos para alertar e evitar um mal maior. E que caricata esta situação. In the end of the day, quem é a pessoa que continua a aconselhar e a lutar? Pois...

Ana 2 de maio de 2009 às 17:28  

"A mim custa-me imenso, que no mesmo país, onde milhões de pessoas tem 250 euros por mês para viver e em que desses 250 euros 200 são para medicamentos, existam meninas, que gastem centenas e centenas de euros por mês em futilidades."

Custa-te a ti e custa-me a mim. É ser-se muito egoísta, não directamente, mas indirectamente. É ser-se egocêntrico e interessar-se só para o seu mundinho que... Vai-se a ver e de valor nada tem.

Há pessoas que são tão fúteis e básicas que a única coisa que lhes consegue dar felicidade é: sair à noite e beber. Beber e beber... beber para esquecer para na noite a seguir voltar a beber. Enfim.

E é triste... Muito triste. Vejo estas pessoas a chegarem ao final da Vida sem conseguirem partilhar e transmitir nada de valor às gerações seguintes. É giro conseguir imaginar jovens de hoje (que nada sabem, nada investem, nada de nada) a sentarem-se ao lado dos seus netos e recordarem-se apenas das saídas à noite. E nada saberem para poder transmitir. Conselhos de Vida a dar. Nada !

Pedro Correia,

Concordo contigo quando dizes que quando não há família a proteger (e na maioria das vezes o problema é esse), cabe aos amigos aconselhar e chamar à razão. O problema é quando as pessoas estão viciadas demais na vida que levam e acham que assim-é-que-é. Aí, a cegueira é tanta que não há amigo que os valha. Têm de ser elas mesmas a despertar e fazer uma auto-reflexão daquilo que querem ser e fazer da Vida.

Tiago Mendonça 2 de maio de 2009 às 17:35  

Ana,

É por aí. Não vale a pena falar, não vale a pena dizer mais nada.

A auto-destruição, pelo menos ao nível dos valores e do exemplo para a sociedade é definitiva.

Acho uma estupidez (não consegui encontrar termo mais suave) que uma pessoa que consegue estar duas décadas como um exemplo para os outros, reconhecida e admirada por uma imensidão de pessoas, consiga em poucas semanas destruir essa imagem.

Não vou pessoalizar. Resistirei a essa tentação em nome da elevação deste blogue. Mas a culpa não pode morrer solteira. Afinal alguém estava-se "mesmo a cagar para a felicidade de outro alguém".