Finalmente posso postar isto aqui*

>> domingo, 3 de maio de 2009

*Este é um texto da autoria da Daniela Major, blogger do Câmara dos Lordes. Uma espantosa análise.

O amor é uma seca. É verdade, fiquem chocados mas para mim é. Hoje em dia, gosta-se ou ama-se porque fica bem. Porque convém. Os casais são todos muito parecidos. Elas bonitas e descascadas, e eles bonitos com as calças a cair pelo rabo abaixo. O bonito. A qualidade que só por si é capaz de decidir relações. Hoje em dia, “escolhem-se” os namorados e namoradas, porque eles são giros. Porque ficam bem juntos. Porque vão fazer umas belas fotos para porem no HI5. Já ninguém aceita gostar dos feios, dos mais velhos, dos gordos, dos baixos. Gosta-se porque faz sentido, porque a amiga disse que ele era um pão e porque os amigos disseram que ela era gira. Já ninguém aceita que as coisas possam não sair como nós queremos, que podemos não gostar da pessoa que mais nos convém, mas gostar de outra qualquer, de que, por alguma razão, não querermos ou não podemos gostar. O Miguel Esteves Cardoso numa das suas melhores crónicas dizia indignado que estava “farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.” E que “é sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz”. Pois é, falava bem o Miguel, mas quem é que, agora, aceita isto? Hoje em dia, até se tem um “tipo”, um “homem perfeito”, uma “mulher perfeita”. Fazem-se listas – Listas! Como se de uma escolha se tratasse – analisa-se, fazem-se testes de compatibilidade. Para ver quem fica ao meu lado, para ver como vão ser os filhos que tem que ser magníficos! Os olhos têm de ser do pai e o nariz da mãe! Não se aceita as dificuldades. Não se aceita que as coisas possam não correr como nós queremos. Que as relações sejam elas quais forem, tem imprevistos, entraves. Não se aceita o amor imperfeito. Tudo tem que ser perfeito, combinado, planeado até ao último detalhe. Procura-se a perfeição, porque pensa-se que o amor é perfeito. Não é. Se fosse, todos viveríamos felizes. E porque nem de “giros” está é o mundo feito.

2 comentários:

Tiago Mendonça 3 de maio de 2009 às 14:11  

A Daniela tem apenas 16 anos. Convido a visitarem o blogue desta autora, para perceberem a qualidade e a profundidade que incute nas suas análises. Uma agrádável surpresa.

Muito positiva esta lufada de ar fresco. Após tantos post's, a falar aqui sobre a degradação dos valores e sobre a futilidade que tolhe parte da nossa juventude, o reverso da medalha.

Com 16 anos, 20 vezes mais maturidade, que certas tresloucadas de 23, que de vodka em punho, num carro verde fluorescente vão desencaminhando e proferindo frases completamente ridiculas.

De vodka em vodka, até à degradação final.

"É mais cego aquele que não quer ver, do que aquele que não vê"

Anónimo 3 de maio de 2009 às 16:20  

cá estou eu! Obrigada pelos elogios Tiago. E obrigada por teres postado isto aqui. :D