A escaldar, por Nélson Faria
>> segunda-feira, 4 de maio de 2009
6ºTema - Casamento entre Homossexuais
Por trás da bandeira do casamento homossexual há um outro casamento: um casamento de conveniência entre uma ideologia à deriva e a luta de um grupo de pessoas que são discriminadas por força da sua orientação sexual. Não vale a pena obviar este facto. Aqui reside a força do tema: a busca de bandeiras, por um lado; a afirmação de uma minoria, por outro.
Não tenho nada contra o casamento entre homossexuais, mas tenho tudo a favor da defesa do casamento como instituição milenar. O casamento não é uma ficção do direito nem foi inventado ontem: é um instrumento de estabilidade social adoptado pelo direito, integrado no tecido normativo pelo seu peso. Não se inovou quando se adoptou, foi uma figura que se sedimentou e ganhou o seu lugar.
Num momento em que a família atravessa um período de redefinição, esta discussão em nada ajuda a causa de quem procura estabilidade e a solidificação dos valores familiares. Mas não podemos fugir a ela: a família perdeu parentesco, centrando-se cada vez mais no seu núcleo, nos pais e filhos. E mesmo entre estes a família parece estar descaracterizada, tendo ganho a aparência de um acordo de convivência mútua assegurada. Cada progenitor tem o seu emprego, os filhos têm a escola, a refeição, se tomada em família, faz-se em partilha com a televisão. As coisas estão a mudar violentamente, e nós nem nos apercebemos da agressão.
Reconhecendo a semelhança aparente da união, antropologicamente falamos de um fenómeno distinto. O casamento surgiu para reforçar e dar corpo a uma relação que era projecto de vida a dois, mas também o cumprimento do desígnio divino. E agora dizem-me “o casamento nada tem a ver com a religião”. Errado: é claro que tem tudo a ver com a religião. Foi na confusão entre Estado e religião que nasceu esta polémica. Perdeu-se o rumo, o significado, o valor, e entrámos na versão “novela” dos casamentos: casa e descasa porque ele perdeu o emprego, porque ela me foi infiel, porque ele já não me dá atenção, porque ela se desleixou. Tudo isto numa espiral de argumentos acessórios que derrota a promessa do sagrado e do divino.
E nós, que prezamos a simbologia e o acto, que papel se reserva para nós? Temos de nos acomodar à sua dissecação e esventramento? E o nosso direito a lutar por aquilo em que acreditamos, por aquilo que nos é querido, pela tradição, pelo costume, pelo Amor? Este é um dos casos em que o Estado indevidamente penetrou numa área que não é sua e banalizou, a seu bel-prazer, uma instituição religiosa, um sinal divino. O mínimo que devia fazer, perante esta encruzilhada, é devolver o casamento a quem o preza e honra.
Que se arranje um outro contrato para tratar da união das pessoas à luz da lei e se acabe com a permissão de vilipendiar o que outros sacralizaram.
1 comentários:
Nestas minhas derivas nocturnas pela blogosfera eis que encontro estes brilhantes textos do Né. Concordo com 90% do que dizes em todos eles.
Só um pequeno apontamento em relação ao título deste post: o "casamento" de que se fala não é o casamento entre homossexuais, mas sim o casamento entre pessoas do mesmo sexo: não há nada na lei que impeça um homossexual de casar, o que só prova como o casamento, enquanto garantia institucional por nós defendido, é muito mais do que uma instituição para perpetuar a homofobia, como apregoam os que querem mudar à lei à revelia do povo!
Continua sempre no activo Né!
Um abraço!
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