A Escaldar, por Nélson Faria

>> segunda-feira, 13 de abril de 2009

3ºTema - Eutanásia



A experiência pavorosa da morte torna-se ainda mais aterradora quando acompanhada de sofrimento e dor, quando estes assumem proporções tais que só pensamos em eliminá-los custe o que custar. Quando pensamos em eutanásia vem-nos à mente casos em que nos confrontamos com a impotência de nada poder fazer, em que a medicina deixa de responder à vida e apenas prolonga o “morrer”.

Estamos numa fronteira em que é ténue a linha que diferencia um acto de compaixão de um acto desumano. Os avanços da medicina levantam problemas novos: hoje temos a capacidade de prolongar para lá das capacidades de ontem a vida de uma pessoa. Mas quando este prolongamento não tem qualquer reciprocidade com a capacidade do próprio corpo em viver, é indiscutível que não vale a pena continuar o tratamento. Entrando numa situação de distanásia, é somente humano terminar com o auxílio médico: estamos num beco cuja única saída é a morte.



É isto a eutanásia? Não. Na eutanásia vemos o fim da vida por vontade do próprio ou dos seus familiares por entenderem que a dor é demasiado grande, sentindo como sua a obrigação de abreviar o sofrimento. Será a eutanásia a antecipação do fim da tormenta de um moribundo ou a provocação da morte mascarada de compaixão? Quando recusamos auxílio com o fim de eliminar a dor, não antecipamos o inevitável, provocamos a morte.

Aparentemente é um acto de caridade. Olhemos bem para a natureza desta decisão… decide-se terminar com uma vida porque “mais vale isso que continuar a sofrer”, sendo que o corpo continua a lutar pela sobrevivência. Não falamos da situação em que só as “máquinas” ou artifícios medicinais permitem o capaz funcionamento de um corpo, aí entramos numa situação de distanásia e é expectável a suspensão do tratamento; falamos de casos em que julgamos que a dor é demasiado grande para que valha a pena continuar a viver.



A incapacidade de suportar a dor conduz muitos, pela própria voz ou de quem é seu próximo, a pedir a morte. Acredito que, motivados pela “dor sem sentido”, cometemos um erro de discernimento: não há um direito à morte, há o dever de deixar partir quem já não podemos ajudar. Se podemos suavizar o sofrimento do doente com cuidados médicos, com atenção e auxílio, com afecto, a eutanásia não é um acto de compaixão mas sim um acto que não está conforme com a dignidade e protecção da vida humana. Provocar a morte para evitar o sofrimento retira a humanidade, a misericórdia e a compaixão do acto. Não é humano.

O homem não vale pela sua eficiência, pelo seu aspecto, mas por si próprio
Bento XVI

0 comentários: