A escaldar, por Nélson Faria

>> segunda-feira, 6 de abril de 2009

2ºTema - Prostituição



O que está em causa quando falamos de prostituição? É prostituição só sexo? O sexo é mera actividade ou manifestação de algo? Todos nós temos impulsos, e todos nós já nos sentimos atraídos por alguém somente pelo seu aspecto físico. Mas será o sexo só desejo e vontade, o suprir de uma necessidade física?

O sexo é muito mais do que cópula. Com o sexo compensamos uma necessidade intrínseca ao Homem que está muito para lá do físico: a necessidade de ser aceite por outrem, acolhimento, completude e intimidade, sentido de pertença, comunhão e partilha. Não há sexo sem sentimento.

O que acontece, então, na prostituição? O corpo deixa de ser nosso e passa a ser do cliente, há uma subjugação corporal à vontade do outro, abdica-se da vontade própria sobre o nosso corpo a favor de outrem. Na prostituição, no sexo sem sentido, reduz-se alguém a objecto, a instrumento de prazer sexual: a pessoa não é mais humana, é mercadoria.




E este tratamento, ao contrário do que se quer fazer crer, é exclusivo da prostituição: na imperfeita e recorrente comparação com os modelos esquecemo-nos que é a imagem que é cedida, não a pessoa ou o seu corpo. Na prostituição colocamos um preço no usufruto da pessoa, e isso, nada tem de humano.

Há vantagens na regulamentação da prostituição: segurança; controlo; saúde; receitas fiscais. Mas paremos um pouco. Centremo-nos no problema: de que forma estas vantagens são solução para o problema da exploração do corpo de um ser humano por outro? O problema não está nas consequências e complicações advenientes da prostituição ilegal ou não-regulamentada; o problema está, isso sim, nas suas causas.

Hoje em dia, em demasiados assuntos, olhamos para o problema que temos e precipitamo-nos para uma resolução sem ponderar seriamente na fonte do problema. Não nos enganemos: ignorar a fonte é não resolver o problema. E onde está a fonte? Na objectificação e desprezo pelo valor do sexo, em histórias de pobreza, de violência, de abuso, de desconfiança e fraca auto-estima, de falta de oportunidades, na falta de amor, na falta de afecto, na luta por um futuro melhor para si e para a sua família.




E está também, não o ignoramos, em quem procura sexo, em quem procura satisfação sexual motivado pela ausência de uma relação genuína, pela solidão ou frustração pessoal. Não vale a pena olharmos para a prostituição ignorando a “procura”: o “cliente”. E esta procura merecia bem mais estudo e bem mais atenção. Esta procura existe, tenho em crer, por não olharmos para a prostituição como um crime contra a humanidade, como uma objectificação da pessoa humana, como a subjugação do “um” por “outrem”, isto tudo, mas também pela falta de afecto e pela ausência de uma cultura de Amor para lá da expressão sexual.

O caminho do homem deve ser sempre rumo a uma sociedade mais humana. E esta sociedade mais humana, ao contrário do que pensa a maioria (a)moral vigente, não se traduz em aceitar todas as nossas falhas e palpitações sem senão, mas viver de acordo com valores universos respeitadores da pessoa humana.

Não é acolhendo o que sabemos ser mau que conseguimos humanizar o que é desumano.

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