Dia B, por Bruno Antunes*

>> domingo, 29 de março de 2009

“FaSinPat” um exemplo a seguir?

Desde logo agradeço o convite para neste blog escrever.

Nesta primeira edição do “Dia B” quero trazer à colação um tema muito em voga, a crise. Não a crise “latu sensu”, apesar de aqui ser relevante, mas uma crise bastante específica e anterior à actual, a crise argentina de 2001 que tive a oportunidade de conhecer através da leitura de um artigo do Courrier Internacional que se reportava a uma notícia da revista Jobbom de Montreal de Janeiro de 2008. Esta crise mostrava um país perto da falência: incumprimento dos pagamentos das dividas externas, fim da paridade peso-dólar, PIB inferior em quase 20% aos resultados de 1998 e 60% da população a viver abaixo do limiar de pobreza.

Esta crise gravíssima, muito pior do que a actual (até ao momento) deu azo a uma reacção que se poderá chamar de extraordinária. Os trabalhadores em vez de cruzarem os braços e esperarem pelo subsídio de desemprego recuperaram as empresas, ocupando-as através da formação de uma cooperativa com o nome de “FaSinPat” (Fabrica Sin Patron, ou Fábrica Sem Patrão). Este fenómeno desenvolveu-se e 10 mil trabalhadores são empregados por estas empresas ocupadas. Porém, a vida mostra-nos que as coisas não podem ser tão simples. Existe um impedimento de ordem legal pois “a lei concede à cooperativa prazos de exploração, sem nunca confirmar que esta é de facto proprietária da fábrica, do equipamento”. Ainda assim 10 mil parecem-me um número considerável e a ter em conta, são por ventura menos 10 mil desempregados.

Poderão agora estar os leitores a pensar “ Mas porque raio está este gajo a escrever sobre uma crise com 8 anos?”. Caros leitores, este tema não surge desgarrado de qualquer fundamento, aliás é este muitíssimo pertinente nos dias de hoje.

Ao tomar conhecimento deste artigo a dúvida que me assaltou de imediato foi a da possibilidade de extrapolar este exemplo para a actual crise, para o nosso país. Dúvida legítima creio.

Na realidade, admitir um cenário deste tipo no nosso país seria muito difícil. Desde logo, a crise ainda não é tão grave como aquela que reportei (espero que não chegue a tal), apesar de já merecer preocupação de todos. Porém, será que se a crise actual fosse como aquela, as pessoas na Europa reagiriam do mesmo modo? Não sei, aliás esta dúvida surge juntamente com outro problema. O problema de saber se disto ao comunismo não é apenas um passo. Admitir que os assalariados de uma empresa a ocupem não será apenas o “primeiro tijolo” na construção de uma sociedade comunista ainda que com adaptações? Deixo-vos a questão para reflexão, pois eu próprio me interrogo sobre isso. Aliás, disto passo para outro problema que alguns considerarão pouco pertinente mas que aproveito este espaço para lançar. Será o comunismo tão indesejável? Será que nos habituámos de tal modo a odiar o comunismo que este deixou de ser sequer motivo de reflexão? Eu não sou comunista, mas para o rejeitar (como faço) preciso de pensar sobre isso, de averiguar vantagens e desvantagens e chegar a uma conclusão. Reflictam sobre o tema. Obrigado.

*Estudante no 3º ano de Direito, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Bruno Antunes é o novo colaborador do Laranja Choque. Num estilo próprio, apreciado por muitos, creio poder sintetizar o estilo do Bruno, ao afirmar que parte da reflexão critica de variados problemas com que se depara na sua actividade de busca da informação para a abordagem das temáticas, lançando várias questões aos leitores, com o intuito de promover o debate, ou, pelo menos, a reflexão dos vários problemas sob diversos prismas. Sem dogmas, com controvérsia. Aqui têm o Dia B.

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