Mel e Paixão, por Diogo Agostinho

>> terça-feira, 20 de janeiro de 2009



Hoje, no dia que toma posse relembro o dia 4 de Novembro de 2008, em que o recém-eleito Presidente dos Estados Unidos da América discursou à nação. Barack Hussein Obama, o 44ª Presidente da “ainda” maior potência mundial, um afro-americano democrata venceu as eleições contra o Senador John McCain e Sarah Palin.

Fui reler o discurso de Obama, o que não é de todo o mesmo que ouvir o seu discurso. A capacidade oratória do novo Presidente dos EUA, sente-se em cada palavra proferida, emprega uma entoação que mobiliza e galvaniza as pessoas. O inicio do seu discurso e o elogio rasgado que fez ao seu adversário na campanha para a Casa Branca evidenciam a sua diplomacia e sobretudo a capacidade que deteve nesta campanha. Obama, de 47 anos, enfrentou um opositor mais velho, e demonstrou sempre um enorme respeito perante John McCain. A emotividade também esteve presente nas palavras simples e directas para as suas filhas, para a sua esposa, para o seu Vice-Presidente Joe Biden e para os homens que montaram a sua campanha.

Este discurso, porém marca uma nova fase, um fechar de campanha e reporta algumas considerações sobre qual o futuro da Administração Obama. O candidato Obama, com um discurso de esperança e de mudança conquistou os votos dos americanos, contudo, depara-se agora com uma enorme responsabilidade: não defraudar as expectativas à sua volta, quer nos EUA, quer no resto do mundo. E esta responsabilidade está bem latente no seu discurso. Obama reconhece e chama a atenção para os problemas que os EUA enfrentam e vão enfrentar, salienta a crise financeira que abalou o mundo, não menospreza a Guerra no Iraque e no Afeganistão, alerta para as dificuldades que os americanos enfrentam no sistema de saúde e na educação, procura no seu discurso alertar todos para a realidade e baixar as expectativas, é um sinal bem evidente ao longo do seu discurso. O intuito de baixar as enormes expectativas que a sua eleição criou, prossegue no seu discurso em que afirma mesmo “O caminho à nossa frente vai ser longo. A subida vai ser íngreme. Podemos não chegar lá num ano ou mesmo numa legislatura.” Esta afirmação é proferida ainda antes do habitual extremar de posições que os políticos fazem quando tomam posse e afirmam que a situação real é bem pior do que imaginavam. Obama, com esta afirmação pretende marcar o rumo e começar a contabilizar todas as suas medidas, como importantes para o futuro dos EUA. Mas, como habilmente fez ao longo da sua campanha em que derrotou tanto Hillary Clinton, como McCain, Obama não deixou de dar uma palavra de incentivo e de esperança num futuro melhor.




Obama anuncia “uma nova era na liderança americana”, e tem uma afirmação muito contundente, que fará reflectir muitos dos que contestaram George W. Bush, e as suas opções belicistas, o novo Presidente Democrata afirma no dia da sua vitória que está pronto a derrotar quem quer destruir o mundo. Esta afirmação resvala para a continuidade de os EUA assumirem o papel de defensores da Democracia, mas sem deixar de lado a possibilidade do uso da força. Obama não afirma, mas é contundente ao declarar guerra a quem quer destruir o mundo. Mas, juntamente com a afirmação de força, diz ao mundo que podem contar com os Estados Unidos, e que tenciona assumir a liderança do globo não apenas pelo poderio militar ou económico, mas pelos valores e ideais que assentam na “Democracia, liberdade, oportunidade e esperança inabalável.”

Esta declaração ao mundo de solidariedade e apoio são secundadas com um claro aviso de que os EUA são uma força a ter em conta, e com a sua eleição, a eleição de alguém que subiu na vida, de raça negra, que preconiza o sonho americano, Obama avisa o mundo de que mais uma vez os EUA estão um passo à frente em termos culturais e que a vitória histórica de um negro é reveladora da capacidade de compreender o futuro e o mundo global por parte dos americanos.

Existem também, duas notas importantes no seu discurso a realçar, o relatar da história dos EUA, na figura da senhora Ann Nixon Cooper de 106 anos, a apelar ao patriotismo dos americanos e a criar as condições para não perderem a esperança e se mobilizarem perante as dificuldades. Bem como, o reconhecimento do papel do Partido Republicano, através da luta de Abraham Lincoln para abolir a escravatura, um momento que permite unir uma nação que detém dois grandes partidos, em que Barack Obama realça a sua preocupação em ser Presidente de todos os americanos e governar com o apoio de democratas e republicanos, acentuando a necessidade de ouvir todos, mesmo quem nele não votou.



É um discurso bem construído e que apresenta pistas para além da mensagem “Change! Yes, we can!” , Obama foi exímio na mobilização ao longo da sua caminhada até à Casa Branca, referindo que agora passados 21 meses não é tempo de baixar os braços, o novo Presidente dos EUA conseguiu “tocar” os americanos e o mundo, mas agora é tempo de governar e tomar decisões, e este discurso foi proferido com o intuito de baixar expectativas perante os problemas, mas sem descorar o “brio” americano e a sua esperança em mudar o mundo. Acaba por elaborar um chamamento a todos numa hora determinante dos EUA.

Hoje toma posse, tem o mundo a olhar para ele…

Diogo Agostinho

1 comentários:

jfd 21 de janeiro de 2009 às 10:09  

Excelente análise Diogo. É bom ler o teu informado ponto de vista. Gosto da perspectiva, como sabes, não estou habituado ;))