Mel e Paixão, por Diogo Agostinho

>> terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Os poderes do Presidente da República


É claro para todos, que a existência do Presidente da República é fundamental para o regular funcionamento das instituições. A figura do Chefe de Estado, como existe em Portugal permite-nos encontrar numa única pessoa a referência para um bem essencial na política e sobretudo para o desenvolvimento: a estabilidade.

Como tal, e à luz dos seus poderes, o Presidente detém a “bomba atómica”, ou seja, a dissolução da Assembleia da República. Um homem apenas detém o poder de demitir 230 deputados eleitos. É de facto um poder absoluto. É certo que o Presidente não governa, não faz leis, mas tem a capacidade de veto, de acompanhar os governantes aconselhando-os e influenciando.

Uma Presidência de cooperação é pois essencial, Cavaco Silva, actualmente, inaugurou um novo estilo, a coabitação pacífica com um Governo de uma cor política diferente, por oposição aos tempos atribulados de Sampaio que em dois casos de demissão de Primeiros-Ministros usou dois pesos e duas medidas díspares, e demonstrou que o poder absoluto de apenas um ser humano, que deve ser o Presidente de todos os Portugueses, é por vezes excessivo e sobretudo perigoso, podendo privilegiar os seus companheiros políticos. O que se passou em 2004, é um excelente caso de estudo, até hoje não ouvimos por parte do Presidente Sampaio quais os reais motivos, invocar «uma grave crise de credibilidade do Governo e também não soube prestigiar as instituições», referindo ainda «uma série de episódios que ensombrou decisivamente a credibilidade do Governo e a sua capacidade para enfrentar a crise que o País vive», e reforçou que «Sucessivos incidentes e declarações, contradições e descoordenações que contribuíram para o desprestígio do Governo, dos seus membros e das instituições». Mais hilariante foi: «Não fiquei surdo às vozes que defendem que o Orçamento para 2005 não responde satisfatoriamente às exigências de efectiva consolidação orçamental, condição necessária para se prosseguir o esforço de redução do défice público que os nossos compromissos internacionais e as necessidades do nosso desenvolvimento futuro tornam indispensável.» estas palavras de Sampaio no dia 10 de Dezembro de 2004, poderiam, ou melhor encaixariam na perfeição no dia 25, 26 ou 27 de Janeiro de 2009. E hoje? Hoje em dia, o Presidente Cavaco assiste à degradação do caminho de Portugal, não demite este Governo, duvido que Sampaio se estivesse no seu primeiro mandato no ano 2004 tomasse a mesma posição.



É pois sintomático que o Presidente da República com os poderes que detém poderia bem ser substituído por um Monarca com tradição e história e claro, menos custos em actos eleitorais, como as presidenciais, que são cada vez mais dispendiosos. Mas poderíamos ir mais longe, assumindo que um Rei não necessitaria do calculismo de um primeiro mandato em sintonia com o Governo, para assegurar reeleições.

Faz falta em Portugal um debate sobre o real papel do Presidente da República, e que se repensasse um caminho diferente, ou um modelo ao estilo francês, com um reforço do poder do PR, mais colaborante com o Governo e com mais funções executivas, para não permitir casos como o Estatuto dos Açores, ou então outros caminhos como pensar se faria sentido instaurar a Monarquia.

Vale a pena reflectir…

Diogo Agostinho

1 comentários:

Tiago Mendonça 27 de janeiro de 2009 às 16:05  

Mais um excelente texto do meu amigo Diogo Agostinho.

O sistema semi-presidencial é muitissimo complexo, e resulta de uma simbiose dos dois sistemas puros.

Os sistemas parlamentares, de gabinete por exemplo, como é o caso britânico, configuram uma predominância enorme das Assembleias emanando o executivo das mesmas, mas estando em clara dependência.

Os sistemas presidenciais, tipo americano, onde o presidente prevalece e o executivo é composto por alguns secretários de estado e chefiado pelo Presidente.

O sistema semi-presidencial, terá a sua raiz em França, mas nesse país, rapidamente degenerou para um hiper-presidencialismo, sendo a importância do primeiro ministro e o governo, residuais face à preponderância do Presidente da República, que tem funções directas no governo do país, mas sobretudo uma preponderância politica, que pode ser ilustrada, pelo singelo facto do primeiro-ministro colocar sempre o lugar à disposição do PR, assim que este é eleito.

O sistema português está ao meio. O governo emana da Assembleia (sistemas parlamentares) para tem uma grande prevalência no quadro político. O PR, não é o super-presidente francês, nem é o chefe do executivo, como nos Estados Unidos, mas dispõe de inumeros poderes, como o veto politico e juridico e sobretudo a dissolução da assembleia e a demissão do governo.

O sistema semi-presidencial apenas é comportável, tendo presidentes da republica com sentido de estado. Cavaco tem tido. Mas com presidentes como Sampaio é impossivel, pois os poderes são grandes e ficam à mercê de interesses partidários como se verificou na dissolução da AR, uma vergonha nacional.

Não querendo ficar à mercê desta realidade, ou se retira poderes ao PR, que passa a uma figura simbólica, e desse ponto de vista, aceita-se a existência de um rei.

Ou se aumenta drasticamente os seus poderes para um sistema do tipo francês.

Julgo que é esta a equação.

De todos os sistemas, in concretu, o meu preferido é o americano. É perfeito o equilibrio naquela configuração de freios e contrapesos onde todos os órgãos gozam de um prestigio e de um poder fantástico.