Saber Esperar*

>> quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Quando, durante a pré-época futebolística, o Benfica anunciou a contratação de grandes jogadores em série (de Reyes a Aimar, de Carlos Martins a Suazo), muitos terão sido os que pensaram que o campeonato podia, ou devia, transformar-se num passeio para os encarnados. A ansiedade resultante de anos sucessivos de desilusão conduz naturalmente a esse tipo de sentimento, muito mais emocional do que objectivo e sustentado.
Todavia, uma equipa de futebol ganhadora não se constrói em dias, nem em semanas, nem muitas vezes em meses. Não basta colocar onze grandes jogadores num relvado para eles, por si só, em passes de mágica, conseguirem vencer. No futebol altamente profissionalizado dos nossos dias, tal como numa qualquer empresa ou instituição, para além das capacidades individuais de cada elemento é imprescindível que o todo funcione de forma harmoniosa e organizada. Não basta que cada um cumpra as suas funções de modo autista, rotineiro e desresponsabilizado. Exige-se que nesse cumprimento tenha sempre em atenção o objectivo global, e se preocupe com as condições que, a cada momento, dá aos colegas de prosseguirem o trabalho colectivo. Ou seja, num contexto competitivo – de que o futebol é um excelente exemplo - não basta um mero somatório de capacidades individuais, sendo necessário que a soma das partes crie uma mais-valia com identidade própria, para a qual todos contribuam, que a todos orgulhe e acima da qual ninguém se sinta. Para tudo isto ser possível é obviamente necessário existir ambição, profissionalismo e sentido de entreajuda.
Ora todo este trabalho está ainda por fazer na equipa do Benfica. Existe a matéria-prima (os jogadores), existem as condições de trabalho (salários em dia, centro de estágio, estabilidade directiva), existe competência técnica (um bom treinador), e creio que também vontade de ganhar. Falta apenas tempo, o tempo necessário para que o óleo possa circular por toda a máquina, e que permita ao Benfica apresentar em campo uma força colectiva que se imponha a adversários combativos e empenhados.
Os adeptos do Benfica desesperam por vitórias e títulos. Mas, como em tudo na vida, a ansiedade é má conselheira. Há que ter paciência e saber esperar. Há que dar tempo a jogadores e técnicos para que façam o seu trabalho, e cresçam como conjunto.
Se for esta a atitude, se for dada tranquilidade e espaço à equipa para trabalhar, certamente o Benfica vencerá, senão hoje, no amanhã próximo. Caso contrário voltar-se-á a entrar no ciclo vicioso que originou todo este longo período de sucessivas frustrações.

*Luís Fialho

1 comentários:

Anónimo 12 de dezembro de 2008 às 11:47  

Falta-lhe algo na equação, é que todas as outras equipas estão na mesma situação e têm o mesmo factor tempo.

O Benfica tem uma equipa mediana, falhou no grande palco a UEFA - se tivesse ido à Champions tinha sido trucidado. Para consumo interno tem boa equipa que irá ganhar com as participações internacionais de SCP e FCP que ficarão com os planteís mais curtos.

As grandes equipas não são só para o campeonato, vêem-se lá fora, como o FCP que tem passeado internamente nos últimos anos. Mas que lá fora tem dificuldades. Uma grande equipa tem que se apresentar em grande nível em ambos os palcos. Porque senão será mediana, como o Benfica...